Única providência do parecer de apenas 2 páginas é encaminhar conclusões da apuração para a PF e para o MPF
Ricardo Brito - Agência Estado
BRASÍLIA - Sob protestos e definida como "presepada", "piada" e
"pizza", a CPI do Cachoeira decidiu nesta terça-feira, 18, aprovar, por
21 votos a sete, o voto em separado apresentado pelo deputado federal
Luiz Pitiman (PMDB-DF) que, após oito meses de investigação, não propõe o
indiciamento de nenhum dos investigados pela comissão parlamentar. A
única providência concreta do parecer, que tem apenas duas páginas, é
encaminhar as conclusões da apuração para a Polícia Federal e para o
Ministério Público Federal.
A decisão foi possível porque foi derrubado, durante a mesma sessão, o
texto de mais de 5 mil páginas do relator e deputado Odair Cunha
(PT-MG). A proposta dele, rejeitada por 18 votos a 16, propunha ao
Ministério Público o indiciamento de 29 pessoas e a responsabilização de
outras 12 por participar ou se envolver criminosamente com a quadrilha
comandada pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Na lista de indiciados do relator, constavam o governador de Goiás,
Marconi Perillo (PSDB), o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), o
deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e o senador cassado
Demóstenes Torres (sem partido-GO). Cunha chegou a ceder, retirando o
pedido de indiciamento de jornalistas e de investigação do
procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Mas a proposta do relator
foi rejeitada na terceira tentativa de votação.
Durante os debates, o deputado Silvio Costa (PTB-PE) chamou a
proposta de Pitiman de "piada" e "brincadeira". "Isso é uma piada, isso é
uma brincadeira, a gente não pode passar por um negócio desses", disse.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) disse que é "ridículo" resumir os
milhares de documentos, escutas e extratos bancários a "duas folhas".
"Não podemos ver uma CPI resumida a duas folhas, isso é ridículo e não é
possível que o Congresso vá dar sustentação a isso", afirmou.
O deputado Armando Vergílio (PSD-GO), por sua vez, saiu em defesa da
proposta apresentada por Pitiman. "Esse voto em separado reúne condições
de expressar o pensamento da CPI para não passarmos em branco", disse. O
senador Pedro Taques (PDT-MT) afirmou que o voto em separado padecia de
eficácia porque propunha, após a conclusão da CPI, que um grupo de três
deputados e dois senadores acompanhasse até 2014 o andamento das
investigações da PF e do MP. Segundo ele, não há previsão no regimento
da Casa para esse tipo de acompanhamento. Após um acordo, com o aval do
próprio Pitiman, suprimiram essa parte do texto.
Para justificar seu parecer, o autor do relatório vencedor disse que
seu texto é muito mais abrangente do que o rejeitado de Odair Cunha, uma
vez que todo o material produzido será remetido para as investigações
da polícia e do MP.
"Em plena festa natalina, este relatório final é uma presepada",
criticou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), após a aprovação do texto.
"Só faltam os lencinhos e o champanhe da Delta", ironizou Onyx
Lorenzoni. "Não me compete aqui ficar tendo sentimentos, o que eu posso
dizer que é lamentável, que, apesar de todo o esforço feito pelos
membros da CPI, por todos nós aqui, diante de provas incontestes da
CPMI, não existe um juízo de valor sobre nada. Ela (CPI) se nega a fazer
aquilo que é a sua missão essencial. Levantar provas, identificar
indícios e apresentar conclusões. As conclusões aqui são nada, um vazio,
uma pizza geral, lamentável", criticou Odair Cunha, ao final da sessão
desta terça.
Na prática, a proposta de Pitiman é muito semelhante à aprovada no
início da reunião desta terça, quando, por unanimidade, foi aprovado o
envio de todo o material bruto das investigações feitas pela comissão
para o Ministério Público Federal em Goiás e à Procuradoria Geral da
República. No pedido anterior, seriam encaminhados todo o acervo físico e
eletrônico de documentos da CPI, bem como os sigilos bancário, fiscal,
telefônico e de dados. No de Pitiman, as conclusões também vão para a
Polícia Federal.
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