Usina de litígios, por Dora Kramer
O Estado de S. Paulo
Está
marcada para hoje na Câmara o início de uma nova (a enésima) tentativa
de se discutir a reforma política. Os prognósticos não são otimistas. O
histórico do tema leva a crer que mais uma vez nada vai acontecer.
Dos
seis pontos da proposta do deputado Henrique Fontana (PT-RS) -
financiamento público de campanhas, mudança da data da posse de
governantes, realização de eleições de quatro em quatro anos e não mais
de dois em dois, adoção do "modelo belga" de votação, fim das coligações
proporcionais e maior facilidade para apresentação de projetos de
iniciativa popular - só um conta com a concordância dos partidos.
É
o que muda a posse de presidentes da República de 1.º para 5 de janeiro
e de governadores e prefeitos para o dia 10 do mesmo mês.
Convenhamos, muito pouco para que se possa chamar de reforma.
O
que se tem é uma legítima fábrica de contenciosos: os partidos menores
não vão querer o fim das coligações que lhes dão a chance de eleger
parlamentares; o "afrouxamento" nas exigências para projetos de lei
oriundos da sociedade pode pôr em risco a legitimidade do instrumento; o
tal do "modelo belga" é confuso, dificulta a votação e não resolve a
questão da distância entre representantes e representados.
A
coincidência da data das eleições de presidente a vereador implica
alteração dos mandatos e ainda cria a falsa impressão de que o erro está
na existência de eleições demais. O problema mesmo é a referência
meramente eleitoral dos políticos, partidos e governos.
Resta o financiamento público de campanha que interessa muito ao PT.
Por
dois motivos: reforça a justificativa do partido sobre suas peripécias
mensaleiras atribuídas ao "sistema" que tornaria inevitável o uso do
caixa 2 e, caso aprovado, o critério de distribuição de recursos
favoreceria as maiores bancadas no Congresso. Vale dizer, PT e PMDB.
Evidentemente,
as outras legendas sabem disso e não vão aceitar. Muito menos a
sociedade vai gostar de uma medida que não garante a eliminação da
contabilidade paralela e ainda aumenta a parte que lhe cabe no pagamento
da conta.
Resumida a ópera, não há a menor chance de haver
entendimento. O governo poderia entrar no jogo como árbitro do processo,
mas não vai se envolver, como de resto mantém distância de quaisquer
bolas divididas.
O Planalto não enfrenta divergências. Deixou de
lado as reformas trabalhista e tributária, não quis administrar
politicamente a questão da distribuição dos royalties do petróleo para
não bater de frente com os Estados não produtores. Tampouco vai querer
confusão com os partidos da base contrários a esse ou àquele ponto da
dita reforma política e se arriscar a que, em retaliação, levem seus
minutos no horário eleitoral para outros candidatos.
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