Atualizado em 4 de novembro, 2012
Apesar de ao longo dos anos o
Brasil ter se mantido praticamente estável nos principais rankings de
corrupção da Transparência Internacional, a ONG avalia que o país está
em um caminho promissor para combatê-la.
"Estamos muito otimistas, mas também cautelosos,
já que o Brasil avançou no combate à corrupção, mas ainda são pequenos
passos", afirmou Alexandro Salas, diretor para Américas da Transparência
Internacional.
Dois grandes avanços no Brasil são
responsáveis pela visão promissora de Salas. O primeiro fator citado por
ele é uma mudança na política e na legislação, cujos melhores exemplos
são as leis da Ficha Limpa e do Acesso à Informação.
"Há algo incrível nas duas: uma (a do Ficha
Limpa), por ter sido criada por uma iniciativa da sociedade, que
inclusive já teve impacto nesta última eleição, e a outra, por equiparar
o Brasil aos seus vizinhos, que já tinham uma legislação mais forte em
relação ao acesso a dados", afirma Salas.
O segundo esforço citado pelo especialista diz
respeito à vontade política, algo que é crucial no combate à impunidade.
Segundo Salas, no Brasil e em outros países da América Latina, os ricos e
poderosos raramente pagam por seus crimes. Mas ele avalia que o
julgamento do mensalão vem passando uma mensagem de que as coisas podem
estar mudando.
"Normalmente, o que se vê nesses países é apenas
um esforço para melhorar as leis, como no caso do México, mas os ricos
seguem sem ir para cadeia", diz o pesquisador. "É importante ver
punições, daí a importância do mensalão ou de experiências em países
como o Peru, que puniu efetivamente o ex-presidente Alberto Fujimori."
É por o Brasil estar nesse momento-chave que
Salas considera extremamente importante o país ser a sede nesta semana
da 15ª Conferência Internacional Anticorrupção (IACC), um evento bienal
organizado pela própria Transparência Internacional e por sua
representante no Brasil, a ONG Amarribo, e pela Controladoria-Geral da
União (CGU).
Para Salas, a conferência vai mostrar o quanto o
Brasil está sendo observado pelo mundo, colocando mais pressão no país e
servindo de incentivo para intensificar o combate à corrupção.
Cautela
Se comparado a anos anteriores, o diretor da
Trasparência Internacional diz que hoje os brasileiros estão mais
conscientes sobre a corrupção. Mas se esse é outro motivo para otimismo,
ele justifica a cautela com um alerta relacionado ao momento de euforia
que o país vive, relacionado ao crescimento econômico e ao fato de o
país receber grandes eventos como a Copa do Mundo.
"Quando um país começa a ter uma economia mais
sólida, é mais fácil ver um cidadão comum perdoando atos corruptos,
porque ele não faz um vínculo direito de como a corrupção o afeta", diz
Salas. "Se agora ele tem um bom trabalho, um carro e se o ministro
rouba, ele fica irritado, claro, mas acha que isso não o atinge
diretamente."
No ranking de Percepção da Corrupção da ONG em
2011, o Brasil ocupou a 73ª posição, entre 183 países. Já no que lista o
grau de proprinas pagas, o país ficou no 14º lugar - foram 28 países
analisados.
O fato de o Brasil ocupar posições
intermediárias nos rankings de corrupção e propina reflete bem, segundo
Salas, o que está acontecendo no país: há muitos casos de corrupção, mas
também muitas ações para combatê-la.
De qualquer jeito, o Brasil ainda tem muito o
que avançar no índice da corrupção, para se aproximar dos países que
ocupam os primeiros lugares, como Nova Zelândia, Dinamarca e Finlândia
(empatados) e Suécia, e se afastar de seus 'vizinhos' no ranking, como
Tunísia e China.
Combater a corrupção no país significa reduzir
um custo estimado entre 1,38% a 2,3% do PIB, isto é, de R$ 50,8 bilhões a
R$ 84,5 bilhões por ano, de acordo com um estudo feito pela Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) com base no PIB de
2010.
O menor valor daria para arcar com o custo anual
de 24,5 milhões de alunos das séries iniciais do ensino fundamental ou
comprar 160 milhões de cestas básicas ou ainda construir 918 mil casas
populares.
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