Equidade e celeridade
Nos
últimos anos, a arbitragem tornou-se uma das vedetes do Direito,
especialmente por conta de sua maior velocidade e especialidade em
comparação com o Judiciário e da oportunidade de se colocar disputas
complexas nas mãos de especialistas. De 2005 a 2011, o valor global das
causas submetidas às principais câmaras arbitrais do país — Câmara
Brasil-Canadá; Amcham; Fiesp-Ciesp; FGV-Rio; e Camarb (MG) — saltou de
R$ 247 milhões para R$ 3 bilhões no Brasil.
Os dados fazem parte de levantamento da especialista em arbitragem Selma Ferreria Lemes,
professora do GVLaw da Fundação Getúlio Vargas e representante
brasileira na Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio
Internacional (ICC). Selma é considerada uma das responsáveis pela
consolidação do instituto no país. Trabalhou na Comissão Relatora do
Anteprojeto da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996) e na elaboração do
memorial em defesa da constitucionalidade da norma, declarada válida
pelo Supremo Tribunal Federal em 2001, além de colaborar na redação de
regulamentos de Câmaras de Arbitragem.
Neste ano, com a
instauração de uma comissão de juristas para reformar a Lei de
Arbitragem, o instituto voltou à pauta de discussões de especialistas e
magistrados. Com 44 artigos, a norma hoje recebe críticas por deixar de
regular algumas situações específicas. Para Selma, porém, isso não é
defeito, mas virtude. “Tem muita gente que não sabe trabalhar com essa
liberdade, porque está acostumado a ser dirigido”, declara. "Temos uma
boa lei. Espero que preservem essa liberdade".
Em entrevista à ConJur,
a professora elogiou o instituto que, nos últimos 17 anos, conquistou
credibilidade, graças também às decisões do Judiciário. "Árbitros podem
ser mais rigorosos que o juiz, porque eles sabem que o mérito da
sentença não vai ser alterado". Ela faz questão de ressaltar que a
Justiça tem respaldado o método alternativo de solução de conflitos.
"Alcançamos um alto nível de segurança jurídica na arbitragem por causa
do Judiciário. As decisões do STJ são elogiadas pelo acerto e
pertinência".
Ela explica haver uma espécie de simbiose entre
Justiça Arbitral e Justiça Estatal, comprovada pelo fato de serem raras
as anulações de sentença arbitral pelo Judiciário, o que demonstra o
acerto das sentenças arbitrais. "Em todas as instâncias judiciais, na
sua grande maioria, as decisões estão afinadas com os princípios que
norteiam a arbitragem." Na parte operacional da arbitragem, ela diz, as
câmaras estão fazendo seu trabalho, modernizando seus regulamentos e
capacitando pessoas para atuar nas secretarias.
Para advogados que
desejam trabalhar com arbitragem, Selma aconselha: "É temerário atuar
na arbitragem sem conhecer as especificidades do instituto. É preciso se
desvincular do Processo Civil e saber que não adianta fazer um pedido
extremamente genérico”. Mas lembra: “a base de todo direito é o direito
civil. Não é a arbitragem. Arbitragem é uma técnica, além de ser uma
disciplina jurídica."
Leia a entrevista na Revista Consultor Juridico, 12 de maio de 2013
Alessandro Cristo é editor da revista Consultor Jurídico
Elton Bezerra é repórter da revista Consultor Jurídico.
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