Dependendo de onde nos situamos no espectro social podemos usufruir do que o Brasil oferece de melhor ou de pior do mundo.
Publicado por Anne Silva
Por Luiz Ruffato
De acordo com a Constituição
de 1988, o salário mínimo deve suprir as necessidades básicas
(alimentação, moradia, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social) do trabalhador e de sua família.
Atualmente, esse valor equivale a R$ 788,00 mensais (cerca de 260
dólares). Segundo levantamento do Banco Central, 28% dos trabalhadores
recebem um salário mínimo por mês, e 54%, de um a três (até R$ 2.364,00
ou 790 dólares). Menos de 1% da população ganha mais de 20 salários
mínimos mensais (R$ 15.760,00 ou 5.300 dólares). As mulheres brancas, em
qualquer camada social, ganham, em média, 30% menos que os homens para
exercer as mesmas funções. Um homem negro recebe 57% da média paga a um
branco — e uma mulher negra, menos da metade.
Continuamos a ter uma das maiores concentrações de renda do planeta: 10% da população detêm 42% do total das riquezas do país
Lideramos
o ranking de cirurgias plásticas por razões estéticas: 1,5 milhão de
intervenções em 2013, o que equivale a 12% do total mundial. Além disso,
alguns de nossos hospitais destacam-se como referência em
especialidades como cirurgia cardíaca, transplantes, tratamentos de
câncer e de aids, por exemplo. No entanto, o sistema público de saúde é
caótico: leva-se meses para agendar uma consulta, outros tantos para a
realização de exames laboratoriais, mais alguns para marcar uma
operação. A tuberculose, doença social por excelência, que atinge
particularmente pessoas pobres, registra 70.000 novos casos por ano e
5.000 óbitos. E em 2015 foram notificados 750.000 casos de dengue no
país, com o registro de 229 mortes, sendo 169 apenas no estado de São
Paulo, o mais rico do Brasil.
A USP, listada entre as 100
melhores instituições de ensino superior do mundo, é uma universidade
pública e gratuita, quer dizer, mantida por impostos pagos por ricos e
pobres. Mas ali até hoje não vigora um sistema de cotas, e sim um
programa alternativo, e restritivo, de inclusão social e racial, por
meio de bônus. O ingresso naquela universidade dá-se por meio de um dos
vestibulares mais concorridos do Brasil e o acesso à maioria de seus
cursos restringe-se a alunos que estudaram nas melhores escolas
privadas. A USP mantém-se como reduto exclusivo da elite paulistana.
Enquanto isso, segundo a Universitas 21, o Brasil ocupa o 38º lugar no
ranking que avalia a qualidade do ensino superior em 50 países. O gasto
por estudante brasileiro é de 3.000 dólares anuais — contra a média
mundial de 9.500 dólares e muito distante dos primeiros lugares, Suíça
(US$ 16.000 dólares) e Estados Unidos (15.000 dólares).
Morremos ou de problemas típicos de países ricos — doenças circulatórias e respiratórias, câncer, diabetes — ou de países miseráveis — aids, cólera, hanseníase, hepatite, sarampo, malária.
Embora
não haja dados precisos, estima-se que apenas 46.000 pessoas sejam
donas da metade das propriedades rurais do país. Enquanto isso, segundo
dados do Incra, 4,8 milhões de famílias permanecem sem terra para
trabalhar. Dos 400 milhões de hectares titulados, somente 60 milhões
(15% do total) são utilizados, e, conforme o IBGE, os pequenos
proprietários, donos de áreas com menos de 100 hectares, são
responsáveis por 80% da produção de alimentos e 80% da contratação de
mão de obra. Noventa mil famílias vivem acampadas em precárias condições
ao longo das rodovias e o Brasil lidera o ranking de violência rural:
segundo a Ong Global Witness, em 2014 foram assassinados 29 militantes
da reforma agrária, sendo quatro deles lideranças indígenas.
Estima-se que apenas 46.000 pessoas sejam donas da metade das propriedades rurais do país. Enquanto isso, segundo dados do Incra, 4,8 milhões de famílias permanecem sem terra para trabalhar
Dependendo de
onde nos situamos no espectro social podemos usufruir do que o Brasil
oferece de melhor ou de pior do mundo, porque aqui, no mesmo espaço,
convivem tempos civilizacionais inteiramente diferentes. A complexidade
do nosso país é tão grande quanto a extensão de suas terras — atribuem a
Tom Jobim a frase que talvez melhor resume a dificuldade de
compreendê-lo (ou de nos compreendermos dentro dele): O Brasil não é
para principiantes. Não é mesmo, porque, ao contrário do que apregoava
lema governamental recente, o Brasil não é de todos, é de poucos.
Fonte: http://brasil.elpais.com/
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