O
alerta foi feito por Maurício Torres, professor e pesquisador da USP
(Universidade de São Paulo) por ocasião da audiência pública sobre as
hidrelétricas do Tapajós realizada nesta sexta-feira, 30, pela Subseção
Santarém da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no campus Tapajós da
Ufopa.
Segundo
o pesquisador, se forem construídas barragens de 36 metros de altura,
como está previsto no projeto das Hidrelétricas de São Luís e Jatobá,
ambas na bacia do Tapajós, a tendência é que as águas barrentas do Rio
Amazonas avancem em direção a várias comunidades, uma delas é Alter do
Chão.
Da
mesma preocupação comunga o padre Edilberto Sena, que participou da
audiência representando os movimentos sociais. Ele questionou como
ficará a situação de comunidades como Pimental, São Luiz, Vila Raiol,
Praia do Mar, Bacabal, dezenas de outras, além das cidades de
Jacareacanga, Trairão, Itaituba, Aveiro, Santarém e a vila de Alter do
Chão, já que a cada ano as águas barrentas do Amazonas empurram as águas
do Tapajós na frente de Santarém e entram além do Porto da Companhia
Docas do Pará. “Com uma barragem de 36 metros de altura acima de
Itaituba, quem pode dizer que o Amazonas não vai invadir o Lago Verde de
Alter do Chão, as praias de Ponta de Pedras em Santarém e Pindobal em
Belterra. Até onde as águas do Amazonas vão permanentemente dominar as
águas do Tapajós?”, questionou.
O
projeto das hidrelétricas do Tapajós também ameaça os saberes
tradicionais, segundo o pesquisador Maurício Torres. Ele informou que na
comunidade Jatobá os produtores têm 48 espécies de mandioca cultivada,
das quais a Embrapa só conhece e têm catalogadas seis. Toda área onde
essa mandioca está plantada será alagada caso seja construída a
hidrelétrica de Jatobá.
Questionários
Trabalhando
na região desde 2004, o professor da USP disse ver com preocupação os
questionários que estão sendo aplicados pelas empresas contratadas pelo
governo para os estudos socioeconômicos da área onde se pretende
construir as hidrelétricas na bacia do Tapajós. “Há pouco tempo, tive a
oportunidade de conhecer o senhor Chico Augusto que com 82 anos de
idade, foi à cidade pela primeira vez no ano passado, em minha
companhia, para tirar a certidão de nascimento e tentar se aposentar. No
questionário quando perguntado o que fazia nas horas de lazer,
respondeu que ia passear na cidade. Ora, como pode ter como lazer ir à
cidade, se em 82 anos a pessoa só esteve na cidade uma vez?”questiona
Maurício Torres, acrescentando que não acredita que esteja havendo ma fé
na aplicação dos questionários, e sim, em despreparo que pode gerar um
resultado criminoso, com informações que não condizem com a realidade.
Maurício
alerta ainda que quando as populações tradicionais assinam
questionários como esses, sem saber o que estão fazendo, elas estão
renunciando o seu direito à floresta, ao lugar onde vivem e ao uso dos
recursos sustentáveis.
O
padre Edilberto Sena protestou contra a presença de militares armados
nos locais onde estão sendo aplicados os questionários como forma de
intimidar as pessoas. Segundo ele, isso está acontecendo atualmente em
Jacareacanga, onde helicópteros fazem voos rasantes sobre terras
Munduruku e militares fortemente armados acompanham os pesquisadores
incumbidos de fazer o levantamento da fauna, flora e recursos
hidrológicos do Tapajós no mais curto espaço de tempo para que o
EIA/Rima fique pronto até 15 de dezembro.
Reservatório
Maurício
Torres e padre Edilberto questionaram o representante da Eletronorte
sobre o termo “fio d’água” que está sendo usado para as barragens de 36
metros de altura previstas no projeto de São Luís do Tapajós e Jatobá.
A
explicação técnica dada aos participantes da audiência pública é de que
“Fio d’água” é um termo da engenharia para se referir a um reservatório
que não tem capacidade de regulação. Ou seja, toda a água que entrar
pelo rio vai ter que sair, seja pela casa de força seja pelo vertedouro.
Se houvesse acúmulo de água no reservatório, a água passaria por cima
da barragem. Então, sempre que houver cheia a água vaza e não há
necessidade de regulação.
Fonte: O Estado do Tapajós
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