segunda-feira, 16 de junho de 2025

Eleição: um ritual incômodo

Todo processo eletivo, dito democrático, sempre ensina alguma coisa. Nem sempre coisas nobres — às vezes, lições amargas, quase desprezíveis, pela frequente ausência de eticidade, independentemente da natureza do certame.

Quem já viveu outras disputas — como campanhas eleitorais convencionais — leva certa vantagem. Conhece os atalhos, as estratégias, os códigos ocultos. Defende suas cores partidárias, seus interesses (próprios ou de grupo), com a naturalidade de quem já percorreu o campo minado das eleições mais de uma vez.

Eu, por exemplo, levo desvantagem. Nunca me acostumei com esse papel. Tenho vergonha de pedir voto. Sinto-me constrangido, como se estivesse invadindo um espaço íntimo. Não quero importunar ninguém — sobretudo o eleitor, essa figura tão cortejada quanto fugidia.

Mesmo as pessoas conhecidas, por incrível que pareça, costumam exigir o ritual completo: a visita protocolar, a exposição da “plataforma de gestão”, o aperto de mão ensaiado, a promessa velada de reciprocidade futura.

E há ainda os que, talvez encantados com o próprio poder de escolha, dificultam o contato. Tornam-se inacessíveis. Mostram-se arrogantes, indiferentes — como se o simples ato de ignorar lhes conferisse um poder maior no teatro da eleição.

No fundo, cada eleição é também um espelho. De quem disputa. De quem escolhe. De quem assiste calado. O desconforto a que me refiro não significa fraqueza — talvez seja apenas o sinal de que, por trás do candidato, ainda reside um tímido cidadão, com senso crítico, de proporção e, se me permitem, uma certa fé na civilidade das relações intersubjetivas.

Porque, no fim das contas, quem precisa se vender para se eleger corre o risco de se tornar refém do próprio preço.

sábado, 7 de junho de 2025

Trocando a Beca pela Toga

Permitam-me iniciar esta breve exposição reafirmando a essência do quinto constitucional como um dos mais significativos mecanismos de pluralização e democratização do Poder Judiciário.

Instituído pela Constituição Federal de 1934, o quinto nasceu com o propósito de trazer aos tribunais o olhar plural e a experiência vivida do advogado e do membro do Ministério Público. Desde então, mesmo com as mudanças constitucionais de 1937, 1946, 1967/69 e 1988, esse instituto foi preservado — não como concessão, mas como direito da advocacia e do Ministério Público.

A atual Constituição, em seu artigo 94, estabelece que o advogado deve possuir “notável saber jurídico e reputação ilibada” para compor os tribunais, como expressão do binômio que fundamenta essa escolha: conhecimento e merecimento.

Ao interpretarmos esse dispositivo pelos métodos literal, histórico, sistemático e teleológico, é possível concluir que o notório merecimento — expressão consagrada nos textos constitucionais anteriores — permanece como elemento essencial e inseparável do notável saber jurídico.

É nesse espírito que se impõe a responsabilidade da OAB. A vaga é da advocacia e não pode ser instrumentalizada ou submetida a pressões externas. O processo de escolha é da Ordem. A indicação é da advocacia — não do Executivo, tampouco do Judiciário, ou de qualquer grupo alheio à missão institucional que aqui nos une.

Senhoras e senhores advogados, estamos diante de um momento que transcende escolhas pessoais. Trata-se da afirmação da nossa autonomia, da defesa das prerrogativas e do compromisso com uma Justiça mais plural, mais humana e mais conectada com a realidade social.

Que a toga do novo desembargador da advocacia abrigue, sob o tecido da imparcialidade, um coração de advogado — pulsante, íntegro e comprometido com a Constituição, com o Direito e com a verdadeira Justiça.

Quem sabe, desta vez, a vaga seja de Santarém — a maior e mais antiga subseção do Pará, ou melhor dizendo, do interior da Amazônia.

Me. José Ronaldo Dias Campos

domingo, 1 de junho de 2025

Conversando com Deus

Quem não acredita em Deus não imagina o que está perdendo.

Eu, da minha parte, nunca estou só. Mesmo nos momentos de silêncio e recolhimento, tenho com quem dialogar. Sinto-me constantemente em boa companhia, protegido.

Sou grato pela saúde, pela presença da família e por tudo o que conquistei com esforço e perseverança — vindo de origem humilde. Reconheço que Deus foi generoso comigo: alcancei mais do que sonhei, dentro de uma vida simples, porém honrada.

Engana-se quem imagina que a ciência, ao buscar explicações racionais para os fenômenos do mundo e perseguir a verdade mediante método empírico, se opõe necessariamente à fé ou à ideia do divino. A fé, que move montanhas, transcende os limites do conhecimento humano. Ela não é incompatível com a razão — é, ao contrário, o seu complemento no plano espiritual.

O cético que ignora ou rejeita a presença de Deus em sua existência pode estar abrindo mão de uma dimensão essencial da experiência humana: a de sentir-se acolhido por uma presença que, embora invisível aos olhos, pode ser percebida pela alma. Esse “plus existencial” não é quantificável, mas é, para muitos, inegavelmente real.

Fique com Deus, @migo leitor.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Quinto Constitucional: mérito e missão institucional

Mais do que notável saber jurídico: a escolha de um desembargador pelo Quinto deve honrar o espírito da advocacia como função essencial à Justiça.

Advogado, juiz e promotor, sem hierarquia, são sacerdotes do mesmo credo e professam no mesmo altar: o foro. Juntos, consolidam o tripé da Justiça, com especial destaque ao causídico, que, fortalecido pelo artigo 133 da Constituição Federal, figura como agente indispensável à administração da justiça.

O artigo 94 da Carta de 1988 reserva um quinto (1/5) da composição dos tribunais estaduais e regionais federais a advogados e membros do Ministério Público com mais de 10 anos de efetivo exercício profissional, notável saber jurídico e reputação ilibada.

Neste breve comentário, detenho-me na laboriosa Ordem dos Advogados do Brasil, a quem compete iniciar o processo seletivo, elaborando a lista sêxtupla, que será encaminhada ao Tribunal de Justiça. Este, por sua vez, formará a lista tríplice a ser enviada ao governador do estado, responsável pela nomeação do novo desembargador oriundo do Quinto Constitucional.

Para que não se cometam injustiças, é necessário frisar que a análise do instituto deve ultrapassar a literalidade da norma. O Direito, enquanto ciência da interpretação, exige do julgador uma compreensão escalonada e integral, que envolva os critérios gramatical, lógico-sistemático, histórico e teleológico.

Um instituto com raízes históricas

O Quinto Constitucional foi introduzido pela Constituição Federal de 1934, sob o governo Vargas, com a seguinte redação:

“Art. 104 - (…) § 6º - Na composição dos Tribunais Superiores serão reservados lugares, correspondentes a um quinto do número total, para que sejam preenchidos por advogados ou membros do Ministério Público de notório merecimento e reputação ilibada (…).”

A expressão “notório merecimento”, constante dessa previsão, foi preservada nas Constituições de 1937, 1946 e 1967/69, sendo substituída apenas na Constituição de 1988 pelo termo “notável saber jurídico” — sem, no entanto, afastar o conteúdo ético e institucional que sempre permeou o instituto.

Mais que conhecimento técnico

É preciso que o Conselho Seccional da OAB, o Tribunal de Justiça e o Governador — cientes de que a vaga é destinada à advocacia — considerem, além do conhecimento jurídico, a própria razão histórica e política da criação do Quinto Constitucional. O candidato escolhido deve, preferencialmente, ter relevantes serviços prestados à advocacia e à OAB, entidade de direito público, de natureza sui generis, sob pena de se desvirtuar a lógica representativa da vaga.

Não basta, portanto, currículo técnico. É preciso que a trajetória revele compromisso com a classe, com a Constituição e com a cidadania.

Uma escolha com olhos no jurisdicionado

Espera-se, por fim, que o escolhido — com imprescindível independência e sólida formação humanística — atue com espírito republicano, comprometido com a aproximação entre o povo e a jurisdição, contribuindo para a razoável duração dos processos e para a realização de uma justiça efetiva, leal aos princípios fundamentais da Carta Magna.

Que vença o melhor — pelo mérito, e não por apadrinhamento.

domingo, 18 de maio de 2025

Maduro, mas conectado

Nem retrógrado, nem revolucionário: apenas coerente com o meu tempo

Por José Ronaldo Dias Campos

Com um celular nas mãos, faço quase tudo em termos de comunicação e produção literária.

A partir de uma imagem, de uma ideia ou mesmo de um sentimento, desenvolvo meus textos — corrigindo, acrescentando, depurando — até achar que ficaram bons o suficiente para ganhar o mundo, a começar pela minha revista virtual (joseronaldodiascampos.blogspot.com). A publicação é apenas o último passo de um processo que começa, quase sempre, na palma da mão.

Até meus arrazoados jurídicos são iniciados e revisados no celular, de qualquer lugar — comumente, da minha rede. Estou sempre escrevendo. E o celular, nesse contexto, é mais que ferramenta: é caderno, é máquina de escrever, é extensão da mente. Serve para registrar as ideias no instante em que surgem, para que não se percam. O desenvolvimento vem depois, com a calma que a boa redação exige.

Embora com mais de 60 anos — maduro, portanto —, adaptei-me à revolução 4.0, ajustando-me ao tempo, esse juiz severo que não perdoa os que desdenham da evolução científica. As inovações não me assustam. Devem ser avaliadas, sim, mas sobretudo experimentadas.

Como vivo pensando, as ideias brotam sem pedir licença. E o que faço? Pego o celular, anoto no bloco de notas e, depois, aquilo vira argumento de uma tese que defendo com gosto e realismo. Se deixasse para depois, teria esquecido.

A lente do presente deve ser o observatório permanente de todo profissional que não deseja ser chamado de retrógrado ou ultrapassado. O tempo urge — e a tecnologia não espera por ninguém.

Quero ser atual — nem retrógrado, nem revolucionário. Apenas coerente com o tempo em que vivo.

sábado, 10 de maio de 2025

32 - Rumo ao desembargo 👇🏽

 


Senhoras e Senhores Advogados,

Natural de Santarém, iniciei minha trajetória acadêmica e profissional com sólida formação nos Colégios Dom Amando e Paes de Carvalho, seguida de graduação em Direito, complementada por especializações nas áreas cível e penal, além de mestrado pela UFPA.

Há mais de quatro décadas exerço a advocacia de forma ininterrupta, atuando em todas as instâncias jurisdicionais. Conciliei a militância profissional com o magistério superior e o engajamento institucional na OAB, onde ocupei os cargos de presidente da Subseção de Santarém, conselheiro seccional (por três mandatos) e conselheiro federal (sete mandatos ao todo, além das suplências). Meu nome integra a galeria da Seccional Paraense — símbolo de muitos anos de dedicação à causa da advocacia — como registra o painel de vidro logo na entrada da nossa sede.

Participei da Comissão de Processo Civil do Conselho Federal e fui agraciado com a Medalha do Mérito Advocaticio, grau Ouro, pela OAB/PA, além de ter recebido menção de reconhecimento assinada pelo ex-presidente nacional da OAB, Rubens Approbato Machado, gravada em plaqueta para a posteridade.

Atuei como docente na UFPA (posteriormente UFOPA), UNAMA e ULBRA, ministrando disciplinas como Processo Civil, Processo Penal, Estatuto da OAB e Deontologia Profissional. Fui diretor jurídico da ACES — Associação Comercial e Empresarial de Santarém — e consultor jurídico do Estado do Pará. Integro, na condição de membro correspondente, a Academia Paraense de Letras Jurídicas e a Academia Paraense de Letras.

No penúltimo concurso para o cargo de desembargador, estive entre os mais votados pela advocacia paraense. No último, em 2023, obtive a primeira colocação na lista sêxtupla, após arguição.

Reafirmo minha convicção na necessária paridade entre os agentes do Direito — Magistratura , Ministério Público e Advocacia —, todos unidos na missão de promover a verdadeira Justiça. É chegada a hora de o interior ter voz e presença efetiva no Tribunal de Justiça do Estado do Pará, por meio de um nome que defenda, com firmeza e honradez, o Direito, a Advocacia e a OAB.

Não por acaso, tenho o privilégio de  ver no Conselho Seccional da OAB, vários ex-alunos — profissionais que muito me orgulham e representam o melhor da nossa advocacia.

Humildemente, em breve síntese, me apresento.

Me. José Ronaldo Dias Campos


quinta-feira, 1 de maio de 2025

Reflexões de quem acredita na força da ideia

Vivo pensando — e é daí que nascem, como na Aquarela de Toquinho, as ideias. Basta uma frase, um questionamento, um pensamento para que o texto flua no celular. Digito, corrijo, releio, até considerá-lo pronto. Mas, na verdade, meus artigos nunca estão terminantemente concluídos: a cada releitura, se necessário, reedito. São criações sempre em gestação.

Há mais de dez anos, com habitualidade, atualizo minha revista virtual (joseronadodiascampos.blogspot.com) e compartilho pensamentos no Facebook, no WhatsApp, em jornais e em outros meios de comunicação.

Escrevo para apontar problemas que percebo ao meu redor, buscando despertar a atenção das autoridades e da sociedade para a necessidade de suas soluções — além de socializar informação e conhecimento.

Como agente do Direito e professor, incursiono na busca pela justiça — esse ideal que jamais se alcança por completo, mas que, por isso mesmo, precisa ser permanentemente perseguido.

Quando teço críticas, procuro focar no interesse público e no bem-estar coletivo, evitando personalizar, para não ferir sensibilidades.

Mantenho distância da polarização que intriga, magoa e ofende — porque acredito que ela mais separa do que une. As redes sociais não me deixam mentir.

Embora não frequente igreja com assiduidade, converso diariamente com Deus, com meus pais e irmãos que já partiram — de maneira que nunca estou só. E me sinto bem, protegido.

A justiça que almejo — fiel ao devido processo legal e aos princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito — é, e continuará sendo, a minha eterna causa.

O simples fato de ser solidário, @migo leitor, já é um bom começo para a felicidade.

Pratique o bem. Seja bom. É o conselho que lhe dou.

Enfim: escrever é pensar com o coração, objetivando contribuir para um mundo mais justo e humano. Meu propósito!

sábado, 26 de abril de 2025

Por onde anda a justiça?

Dizem que a Justiça reside no fórum, com seus meirinhos, paredes frias, corredores extensos, carpete que abafa o som dos passos e distancia o juiz do povo — sempre bem protegida. Mas, com o devido respeito à toga, não é bem assim. A verdadeira casa da Justiça é o cotidiano que nos circunda; está em todo lugar, independentemente de meridianos e paralelos. Robinson Crusoé, depois do índio Sexta-Feira, que o diga!

Ela mora na rua — no banco da praça, onde a parte se aconselha com o vizinho mais velho; no balcão da feira, onde se resolve o fiado não documentado em contrato; na beira do rio, onde dois ribeirinhos decidem a divergência sobre a canoa avariada, e assim por diante. É o “direito achado na rua”: esse que não vem da toga, mas da autocomposição, da razão e do coração — da compreensão popular que conserta, que remenda sem exasperar os ânimos, pacificando amistosamente o impasse.

O fórum pode ser o templo da lei. Mas a Justiça, essa perseguida, prefere andar descalça, ouvir a vida, sujar os pés de poeira. Ela aparece, por exemplo, quando o advogado se recusa a judicializar o que pode ser resolvido com uma boa conversa; quando o promotor se permite ouvir mais do que acusar; quando o juiz desce — simbólica ou literalmente — do estrado, sem perder a autoridade, para dialogar com os contendores, inspecionar a coisa objeto do litígio, e por aí afora.

Justiça que só se reconhece no carimbo, nas entranhas dos autos, na estatística criada para cumprir metas do CNJ, é justiça pensa, capenga. E, como dizia aquele professor de conversa franca: o Direito só faz sentido se servir ao povo — verdadeiro destinatário da norma —, com suas necessidades e contradições.

A casa da Justiça é feita de gente. E gente mora na rua, nos bairros, nas comunidades. Talvez seja hora de diversificar o endereço da Justiça. Não para improvisá-la, mas para devolvê-la, como um caudaloso rio, ao seu curso natural.

Justiça — esse misto de realidade e utopia — é processo social. E o verdadeiro juiz, para melhor compreender o drama humano, deve descer do púlpito e escutar o murmúrio da rua antes de pronunciar a sentença.

Sentença justa não nasce apenas dos autos, artificialmente, sobretudo se o julgador se preocupa mais em cumprir metas, como se o processo fosse simples número estatístico de promoção ou reprovação funcional. Justiça que ignora o ser humano não passa de inutilidade burocrática. Pura água de barrela.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Vidas ao relento

Transitando diariamente pela avenida Presidente Vargas, no cruzamento com a rua Silva Jardim, deparo-me, com perplexidade, com uma cena triste e persistente: três pessoas em situação de rua sentadas no canteiro central. Estão ali todos os dias, há meses, sob o sol escaldante e a chuva impiedosa. Suas únicas posses são as roupas do corpo.

Quando chove, correm para as biqueiras das casas. À noite, estendem-se nas calçadas, expostos às intempéries, à indiferença, à crueldade cotidiana de uma cidade que aprendeu a desviar o olhar dos dramas sociais.

É triste, @migo leitor, a vida desse trio. Tudo indica que sejam da mesma família — uma senhora e dois senhores de meia-idade, vivendo sem o mínimo existencial, sem assistência, sem dignidade, completamente invisíveis aos olhos do poder público.

A senhorinha, mais debilitada do grupo, inspira cuidados urgentes. E, se nada for feito, temo que seu destino se consuma ali mesmo, diante da nossa passividade coletiva.

O poder público precisa despertar. É inadmissível que seres humanos sejam tratados como descartáveis, jogados nas calçadas da vida, em condições piores do que aquelas reservadas aos animais.

Que Deus os proteja. Mas que também nos incomode. Porque o que está em jogo ali não é só a vida deles — é a nossa humanidade.

domingo, 13 de abril de 2025

O ninho dourado do cauré

Dizem os antigos que o cauré não sua, não corre, não força. Ele plana. Abre as asas e confia no vento. Seu ninho não é construído — é presenteado.

Fios de palha fina, teias de aranha, fiapos de sol. Tudo chega até ele, como se a própria floresta sussurrasse: - descansa, pequeno. Eu cuido de tudo.

E o que nasce disso? Um ninho delicado, trançado com o invisível. Brilha à luz como se fosse feito de fios de ouro. Não é riqueza de mercado — é riqueza de espírito.

Por isso, quando alguém encontra um ninho de cauré, o faz em silêncio, com reverência. Mas não leva — porque a lei protege o que é da natureza. A captura, a remoção, o comércio: tudo isso é proibido, e com razão. Não se toca em símbolo sagrado.

Hoje, mais que amuleto, o ninho do cauré é lembrança viva de que sorte boa é aquela que respeita o voo do outro.

Afinal, quem avista um ninho de cauré, mesmo de longe, já recebeu o recado:

às vezes, pela força da natureza, a vida se ajeita sozinha, lançando luz no caminho.

sábado, 5 de abril de 2025

Antes da sentença, a sabedoria

O advogado é o primeiro juiz da causa. Cabe a ele ouvir, compreender e orientar — com técnica, empatia e estratégia o seu constituinte.

Em tempos de Justiça Multiportas, litigar por litigar é erro de avaliação. A boa advocacia busca soluções antes de sentenças. E entende que, muitas vezes, a paz se alcança fora dos autos.

Orientar bem é proteger o cliente dos riscos, inclusive emocionais. Porque vitória, no Direito, nem sempre está na sentença — mas na escolha certa do caminho pacificador.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Fique atento!

A Inteligência Artificial (IA) já se firmou como uma das maiores inovações dos últimos anos. No entanto, por mais avançada que seja, não é infalível. Antes de aceitar qualquer informação como verdadeira, verifique os dados, pesquise e analise com senso crítico. A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas a responsabilidade pelo uso consciente e adequado ainda é sua. Melhor conferir antes de adotar!

sábado, 29 de março de 2025

O Abandono da Orla de Santarém

Eu, que amo incondicionalmente a minha terra natal, estou considerando trocar a bela orla por outro percurso para as minhas caminhadas. Agora, imagine os turistas, caro leitor, que pretendam conhecer o nosso cartão-postal: sujeira por toda parte, ladrilhos soltos, quiosques mal administrados, equipamentos quebrados, água empoçada, odor insuportável, etc. 

Se alguém duvidar, basta fazer um passeio da Cargill ao Mascotinho. Eu não sigo rumo ao Museu João Fona, em razão daquele trecho está interditado, prestes a ruir. Como sempre digo: será que as nossas autoridades moram em Marte?

domingo, 23 de março de 2025

INSS - Falta de Sensibilidade

A crescente judicialização das demandas previdenciárias expõe, de forma cada vez mais clara, a precariedade dos serviços prestados pelo Segurador Oficial — o INSS. Quem mais sofre com esse cenário é o trabalhador, que, ao buscar o amparo a que tem direito, se depara com um sistema ineficiente e desumano.

O segurado, elo mais frágil dessa relação, não raro se vê compelido a recorrer ao Poder Judiciário para obter aquilo que lhe é devido por lei — um ônus financeiro e emocional pesado, sobretudo para quem já se encontra em situação de vulnerabilidade.

O prolongamento da tramitação dos processos apenas acentua esse sofrimento. Enquanto o tempo passa, a angústia cresce, e o direito — que deveria ser imediato, por ter natureza alimentar — se torna promessa distante. O impacto é direto no valor dos benefícios, corroídos pela espera e pelo descompasso entre o momento da necessidade e o do efetivo pagamento.

É urgente repensar o atendimento do INSS. Procedimentos mais simples, menos burocráticos, somados à qualificação dos servidores — tanto nos balcões físicos quanto nos canais remotos — poderiam reduzir a judicialização e, mais importante, resgatar a dignidade de quem depende desse serviço público.

O Judiciário jamais deveria ser a primeira opção do cidadão hipossuficiente na luta pelo reconhecimento de um direito tão básico quanto a verba alimentar. Antes disso, a Autarquia Federal tem o dever de garantir uma prestação eficiente e sensível à realidade dos segurados.

Que o INSS — mais que se sensibilizar — assuma sua responsabilidade e enfrente esse grave problema, minimizando o sofrimento de quem só busca o que lhe é de direito.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Nosso Rio, Nosso Espelho

O “puxirum” municipal bem que poderia direcionar esforços para o recolhimento do lixo que circunda a orla da cidade. Ali está ele, @migo leitor, flutuando e manchando o nosso cartão postal!

domingo, 9 de março de 2025

Pensata

Com o tempo vem o esquecimento 

A riqueza, o orgulho e a fama são coisas que o tempo apaga!

segunda-feira, 3 de março de 2025

A Erosão do Direito e o Crepúsculo da Justiça,

O Direito, enquanto ciência da interpretação, perdeu a arte. Sua essência, que deveria combinar rigor técnico com sensibilidade na aplicação das normas, foi engolida por um formalismo vazio e por uma polarização ideológica que obscurece a busca pela justiça. Esta, por sua vez, deixou de ser sonho para se tornar ilusão, descrédito.

O que aprendemos e cultivamos ao longo da história jurídica—princípios, dogmas, garantias fundamentais—parece hoje esvaziado de sentido. O Direito, que deveria ser um instrumento de estabilidade e previsibilidade, está atrofiado, confuso. Os princípios fundamentais, concebidos como normas de otimização do sistema jurídico, encontram-se arranhados, desvalorizados, tratados como obstáculos em vez de diretrizes.

Essa degradação é fruto de uma nefasta polarização que não apenas divide opiniões, mas corrói a racionalidade do debate jurídico. O Direito, que sempre exigiu ponderação e argumentação técnica, foi sequestrado por discursos passionais, por conveniências políticas e por interpretações que moldam as normas conforme interesses momentâneos. Agentes do Direito e legisladores, em vez de guardiões da ordem jurídica, muitas vezes se tornam peças de um tabuleiro dominado por ideologias e pressões externas.

O reflexo desse cenário no povo é evidente: a confiança nas instituições desmorona, a crença na imparcialidade da justiça se dilui, e a sensação de insegurança jurídica se espalha. Mergulhamos numa crise de incerteza que nos deixa perplexos, desesperançados, inebriados pelo caos normativo e pelo ativismo desenfreado.

Mais do que uma crise institucional, vivemos uma crise de valores e de identidade do Direito. O medo ronda a democracia, não apenas por ameaças externas, mas pela erosão interna de seus pilares fundamentais. Se o Direito continuar refém dessa degradação, o risco maior não será apenas a instabilidade jurídica, mas a dissolução da própria ideia de justiça como princípio regulador da sociedade.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

A natureza reclama

O município bem poderia promover um mutirão para remover o lixo que a enchente do Tapajós empurrou para a margem do rio e concentrou em alguns pontos da orla.

Aproveite a ajuda da natureza que devolveu a poluição para ser recolhida e transportada para o aterro público, seu prefeito.


 

Resgate da cantada e decantada "Rocha Negra"

Prefeito José Maria Tapajós, torne realidade a criação do Parque Ambiental “Rocha Negra”, promessa do ex-prefeito Nélio Aguiar. A ex-prefeita Maria do Carmo marcou presença com a criação do Parque da Cidade. Faça o mesmo!

A “Rocha Negra", bela área de preservação situada no coração de Santarém, com queda d’água em seu interior, adquirida na década de 90 da família Liebold, na gestão Ruy Corrêa, encontra-se em completo abandono, sujeita a invasão.

A área de 359 hectares, localizada no bairro Cambuquira, próxima a BR-163, está protegida pelo Decreto Municipal 491/2022, que impôs limitação administrativa provisória ao idealizado Parque Natural da Rocha Negra.


Existe projeto tramitando a passos de cágado no município com esse objetivo. É só conferir!


domingo, 16 de fevereiro de 2025

O povo e suas escolhas

Em nome da democracia, justifica-se que o chefe do Executivo, por ter sido eleito, escolha a seu talante os membros da cúpula da jurisdição nacional, politizando o Judiciário e comprometendo sua independência? O fenômeno não é novo, mas, hodiernamente, tornou-se ainda mais evidente. Afinal, quem pode negar a polarização reinante nas atividades da República?

Historicamente, a nomeação de magistrados por critérios políticos não é exclusividade dos tempos atuais. Impérios, monarquias e repúblicas sempre flertaram com a conveniência de ter um Judiciário alinhado ao poder. No Brasil, a Constituição confere ao presidente da República a prerrogativa de indicar ministros para as cortes superiores, um modelo que, embora formalmente legítimo, levanta questionamentos sobre sua necessária imparcialidade.

No campo jurídico, defende-se que a sabatina pelo Senado funcionaria como um filtro, garantindo a qualificação e a independência dos indicados. Mas, na prática, quantas vezes esse controle se revelou mera formalidade? A separação dos poderes, idealizada por Montesquieu e princípio fundamental da República, enfraquece-se quando os atores que deveriam julgar com autonomia são escolhidos por quem, em muitos casos, poderá ser beneficiado por suas decisões.

Politicamente, o impacto é evidente: a Justiça, concebida como um poder acima das paixões partidárias, torna-se peça no xadrez político. A cúpula do Judiciário, em vez de ser vista como guardiã da Constituição, passa a ser percebida como extensão de interesses momentâneos, de um lado ou de outro, fruto de uma inegável polarização.

E assim seguimos, em um paradoxo curioso: a democracia, que deveria garantir instituições independentes, permite que um só indivíduo, eleito por voto popular, exerça influência determinante sobre aquele que deveria ser o último bastião contra abusos de poder. Ironia ou método?

Enfim, de quem é a responsabilidade pelo destino do Brasil? Do povo? Mais precisamente, do cidadão, que elege políticos sem a necessária qualificação e idoneidade para o exercício de tão nobre missão?

Será que é tão difícil ser honesto no âmbito da política partidária?

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Pensata

Eu nunca deixo de atender quem me procura, seja cliente, ex-aluno, amigo ou mesmo desconhecido, independentemente do dia, da hora ou de ser feriado.

Caso não esteja disponível no momento – com exceção dos golpes virtuais que me perseguem – assim que leio a mensagem respondo com dedicação e prazer.

Minha formação humanística me orienta a agir dessa forma. Quem dera que todos pensassem da mesma maneira.

Ajudar os outros faz bem à alma.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Boim, bonita, mas abandonada

A Vila de Boim, localizada na margem esquerda do Rio Tapajós, hoje distrito de Santarém (PA), fica aproximadamente 90 quilômetros ao sul da sede municipal.

Sua fundação remonta a 1690, quando uma expedição de jesuítas, liderada pelo Padre Antônio da Fonseca, estabeleceu a “Aldeia de Santo Inácio de Loyola” na região habitada por silvícolas.

Atualmente, Boim faz parte da Reserva Extrativista Tapajós, uma área de grande beleza natural e importância ecológica, rica em história e cultura.

Contudo, apesar de secular, a comunidade continua abandonada pelos políticos, que só aparecem em época de eleição, prometendo a construção de obras necessárias, como a precária ponte que, há muitos anos, coloca em risco a vida dos comunitários, como se infere das recentes imagens  a seguir colacionadas..

A promessa foi recentemente renovada pelo prefeito.

Vou cobrar, autoridade!






domingo, 26 de janeiro de 2025

Alter do Chão, no interior da Amazônia

Alter do Chão tem  características próprias: muda e se renova com as estações do ano, amigo leitor. O cristalino Rio Tapajós modela e dimensiona suas belas praias o tempo todo.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

No vácuo da incompetência

A violência que se alastra pelas periferias, comunidades e favelas do Rio de Janeiro deve ser debitada ao Estado, que cedeu espaço às organizações criminosas.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

PIX - Azedou para o govermo

povo não reclamaria do novo regramento do PIX se o governo fosse transparente, controlasse rigorosamente as contas públicas, abandonasse a prática de negociar emendas parlamentares, evitasse o desperdício, combatesse a corrupção e os altos salários;  mesmo angustiado com a alta carga tributária que lhe é imposta.

A indignação com as mudanças reflete algo mais profundo: a falta de confiança nas instituições. Não é apenas o temor da fiscalização ampliada ou das novas obrigações; é o cansaço de um sistema que, aos olhos do povo, parece sempre cobrar mais sem dar o retorno esperado.

A censura popular fez o governo recuar.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Recomendação ao Prefeito

Escrevi em março do ano passado o seguinte artigo, mas não adiantou nada. Hoje, caminhando pela orla, notei que estão fazendo reparo em um trecho considerável do calçadão. Espero que restaurem o espaço com idênticos ladrilhos, deixando a obra sistêmica, uniforme, harmônica, obediente ao projeto inicial. Vide 👇🏽

Não basta edificar, é preciso preservar

A orla de Santarém, recentemente concluída, justiça se faça, ficou muito bonita, atraente, embelezando a frente da cidade contornada pelos majestosos rios Tapajós e Amazonas, com destaque ao encontro das águas, presente da mãe natureza.

Entretanto, noto, durante as minhas caminhadas, que a cada semana que passa aumenta a sua descaracterização, devido à falta de conservação.

Os ladrilhos, em alguns pontos, estão sendo sacados ou quebrados sem a necessária substituição.

Quando não fica o buraco no piso, enfeando o ambiente de lazer, preenchem o vácuo com cimento cru, atrofiando a estética da calçada.

Esperava-se, e aqui reside o meu inconformismo, que deve ser recebido como contribuição, que o município deveria manter uma equipe permanente para promover revisões periódicas da obra, para eventual conserto.

A orla de Copacabana, com o piso de pedras importadas de Portugal há mais de 100 anos, preserva a sua originalidade, mantendo o estilo e o design ambiental até hoje, projetando-se para o futuro.

O que se espera, doravante, para a manutenção das obras que valorizam as belezas da pérola do Tapajós, é que a gestão municipal volte a sua atenção, de modo permanente, à conservação dos logradouros públicos da cidade e de seus equipamentos sociais, antes que os danos se tornem mais difíceis ou mesmo impossíveis de reparação.

Uma equipe chefiada por um mestre de obra diligente resolveria o problema que é crônico em nossa cidade.

Será que esse povo mora em Marte?

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Sou assim…

Eu compartilho da mesma concepção do Movimento Antropofágico, idealizado pelo modernista Oswald de Andrade na década de 1920. 

Nutro-me de leituras para compor meus próprios textos, que ganham vida própria. O que é “digerido” se funde ao que foi absorvido, originando novas ideias. 

Minha formação é o resultado das informações que escolho e filtro ao longo da vida, em um processo contínuo de criação e recriação. Com um celular às mãos, tudo acontece: as ideias fluem naturalmente, e eu as documento.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Estado Paralelo, Marginal

Por José Ronaldo Campos

A insegurança que aflige o brasileiro decorre da ausência do Estado, que tolera a existência e o fortalecimento do crime organizado em todo o país. Não se pode culpar exclusivamente a polícia por essa expansão, mas sim o Estado como um todo, que permitiu que essa endemia se enraizasse, ganhasse corpo e se fortalecesse, até adquirir um poder que desafia as instituições.

As facções criminosas, que inicialmente dominaram as periferias e hoje se espalham por todo lugar, possuem força eleitoral suficiente para eleger seus próprios representantes. Estes, por sua vez, atuam como porta-vozes do crime no legislativo, exercendo influência e poder, muitas vezes através da corrupção e da intimidação. É inegável que já se percebe a infiltração de membros ou aliados do crime organizado nos poderes da República, corrompendo valores e desestabilizando as bases do Estado Democrático de Direito.

Quem conhece o Rio de Janeiro entende perfeitamente o que está em questão. Comunidades inteiras vivem sob o domínio de traficantes, que substituíram a presença do Estado. Eles ditam regras, aplicam penas, executam sentenças de morte e controlam a vida dos moradores. São os novos “senhores do território”, enquanto os poderes constituídos – legislativo, executivo e judiciário – permanecem inertes. O Estado paralelo, ou melhor, o Estado marginal, não apenas desconsidera as instituições oficiais, mas as afronta diretamente, reforçando seu domínio e ampliando sua influência.

Minha maior preocupação é que essa força paralela, sustentada por um poder econômico robusto, acabe por superar o poder estatal. Se isso acontecer, nossas instituições poderão ser completamente dominadas, estabelecendo um regime de caos e opressão. Estamos diante de um cenário onde o crime, munido de recursos financeiros e armamentos pesados, já disputa espaços de poder político e institucional.

Como bem dizia o jurista J. J. Calmon de Passos: “Poder sem força é água de barrela.” Essa frase ilustra com precisão o enfraquecimento das nossas instituições diante do avanço do crime organizado.

Vivemos um estado de insegurança tão alarmante que a liberdade constitucional de ir e vir tornou-se privilégio de poucos. Quem ousa sair às ruas usando relógio, corrente ou celular sem sentir medo? Quem se arrisca a transitar por áreas dominadas por facções criminosas? A violência não é mais uma ameaça distante; é uma realidade que atinge a todos.

E quem, em sã consciência, teria coragem de subir um morro no Rio de Janeiro? Vá lá e depois me responda. O que encontraremos não é apenas violência, mas um retrato cruel do fracasso estatal: o abandono de milhares de brasileiros à mercê do poder paralelo.

A reconstrução do Estado e a retomada do controle territorial não são apenas necessárias, mas urgentes prioridades. Caso contrário, estaremos não apenas assistindo ao colapso, mas sendo por ele engolidos.