Avisada pelo querido Marcelo Pinheiro e, depois de muitos anos, assisti, nesta Sexta‑feira Santa, ao Sermão das Sete Palavras, transmitido da linda e acolhedora Capela do Colégio Santo Antônio, proferido pelo cônego Plínio Pacheco.
Antigamente, o chamávamos de “Sermão das Três Horas da Agonia” e nos reuníamos em torno do rádio, em silêncio, pois ainda não havia emissora de TV em Belém.
Encantou‑me o cônego pela excelente oratória e pela fluidez de seu discurso, que em nenhum momento se tornou repetitivo ou cansativo. Não precisei exercitar a paciência para ouvi‑lo: para quem chegou a pedir ao padre de sua paróquia que não fizesse sermões longos, foram horas de puro deleite.
Impressionou‑me, no início da preleção, o paralelo que traçou entre os seres humanos e os personagens contemporâneos à paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Acertou ao mostrar que a humanidade, há séculos, se comporta como seu algoz. Diariamente, por ação ou omissão, acusamos, processamos, julgamos e condenamos Jesus Cristo à infame morte na cruz — e ainda executamos a pena sem remorso.
Esquecemos o verdadeiro significado de paz, perdão, fé, amor, gratidão, humildade, caridade, generosidade, solidariedade, piedade, misericórdia, compaixão, paciência e tolerância — palavras abstratas que, quando postas em prática, geram resultados concretos, como bem demonstrou o cônego Plínio Pacheco.
Entre os muitos pontos que me impressionaram, destacou com precisão a importância de repudiar o ódio e o rancor. Comparou‑os a um copo da lava incandescente do Vesúvio ingerido diariamente — uma contabilidade que só contabiliza o negativo. Para expulsar não apenas o rancor, mas todo sentimento que nos afasta de Deus, propôs a “faxina da alma”. Enfatizou, ainda, que a compaixão, a paciência e a tolerância são caminhos para o perdão: ao perdoar o outro, aprendemos a perdoar a nós mesmos.
Assistir a todo o sermão foi um refrigério, pois, há décadas, adoto a prática de não acumular ressentimentos. Assim — e como dizia minha mãe — posso fazer o bem sem olhar a quem e, quiçá, aliviar, ainda que minimamente, o peso da cruz que Jesus Cristo carrega.
É imprescindível quitarmo‑nos com tudo e com todos, vivendo em paz conosco mesmos, com nossos semelhantes, com a vida e com Deus.
Belém (PA), 18 de abril de 2025
Wanda Luczynski
Procuradora de Justiça aposentada