Se o meliante sabe que, nos dias atuais, quase tudo é filmado, que há câmeras em cada esquina, em cada balcão, em cada celular empunhado, por que, então, continua furtando e roubando, ciente de que será identificado e preso a qualquer momento?
Eu mesmo respondo: porque já se acostumou ao sistema prisional. Sabe que a cela é provisória, que a porta que o segrega é giratória. O cárcere, para ele, é apenas uma extensão da rua — e a rua, o corredor de volta ao cárcere.
Debocha, com o desdém de quem perdeu o medo: “Pouco se me dá! Tanto faz como tanto fez! Tô nem aí…”
O ambiente prisional lhe é familiar; o medo da lei há muito se perdeu; não tem apreço pela liberdade, tampouco pela vida — nem a sua, nem a dos outros. Despreza o ordenamento jurídico, a sociedade que o cerca e o sofrimento alheio.
Assim, o cidadão comum, trabalhador e indefeso, torna-se refém de um Estado leniente, de uma Justiça que prende para soltar, pune para gerar estatística e, paradoxalmente, recruta soldados para as facções criminosas ávidas por novos “calouros” dispostos a engrossar a corrente marginal. Ressocializar? Nem pensar.
Enquanto isso, as câmeras seguem gravando o que o sistema já não enxerga: o pavor do cidadão de bem, a banalização do mal e a inversão silenciosa de valores.
Vivemos sob o olhar atento de um Big Brother que tudo vê — menos o essencial: a falência moral que nos tornou espectadores resignados da violência urbana.
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário