Por José Ronaldo Dias Campos
Homens maus, sem formação humanística, insensíveis — independentemente de paralelos e meridianos — não deveriam legislar, julgar ou administrar interesses coletivos. Pensam apenas em si mesmos e no grupo dominante, inebriados pela ânsia de poder que os informa e sustenta — e, não raro, os corrompe. A política, que deveria ser instrumento da ética pública, transforma-se em palco de vaidades e de propósitos escusos.
Com o tempo, tornam-se déspotas. Justificam-se com eloquência, travestem-se de bem-intencionados, escudam-se em números, decisões e normas que manipulam com habilidade. Moldam discursos para iludir e apaziguar os incautos. A retórica é sua arma; a manipulação, seu método.
O direito de resistência — inscrito, ainda que de forma velada, na Constituição — vai sendo progressivamente ofuscado. Interesses obscuros disfarçam-se de legalidade. A repressão adquire ares de ordem; a censura, roupagem de proteção. E o silêncio do povo é encoberto pelo temor.
O medo sempre teve papel central na história. Não apenas o medo da punição, mas também o da mudança, da liberdade controlada, de escrever o que se pensa. É com ele que se constrói a obediência cega e se anula a vontade coletiva — a cidadania ativa.
Mas chega o tempo — sempre chega — em que o povo desperta. E, ao compreender os verdadeiros mecanismos que sustentam o sistema, clama por mudança. Não por rupturas temerárias ou violentas, tampouco por falsos salvadores da pátria, mas por renovação lúcida — longe da polarização tóxica que paralisa e contamina a democracia.
Toda nação precisa reaprender o valor da vigilância cívica. Porque o poder que não se submete ao livre e democrático escrutínio da sociedade perde a legitimidade — e tende a se servir, em vez de servir ao povo.
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