CPC/15
Nancy Andrighi: prazos do novo CPC não devem valer para Juizados Especiais
Corregedora considera que adoção da nova regra atenta
contra os princípios fundamentais dos processos analisados pelos
Juizados Especiais.
segunda-feira, 21 de março de 2016
A contagem de prazos processuais em dias úteis, prevista no artigo 219 do CPC/15,
não deve ser aplicada nos processos em trâmite nos Juizados Especiais. É
o que defende a corregedora nacional de Justiça, ministra Nancy Andrighi.
"Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais."
A corregedora considera, de acordo
com o CNJ, que a adoção da nova regra de contagem de prazos prevista no
novo CPC atenta contra os princípios fundamentais dos processos
analisados pelos Juizados Especiais, como a simplicidade, a economia
processual e, sobretudo, a celeridade.
Em defesa da razoável duração
desses processos, Nancy Andrighi manifesta seu total apoio à Nota
Técnica 1/16 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais (Fonaje). O
documento pede a inaplicabilidade do artigo 219 do novo CPC aos Juizados
Especiais.
Veja abaixo a íntegra da nota técnica.
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FORUM NACIONAL DE JUIZADOS ESPECIAIS - FONAJENOTA TÉCNICA N. 01/2016Ref.: Artigo 219 do Código de Processo Civil de 2015, que trata da contagem de prazos processuais em dias úteis.Os Magistrados integrantes da Diretoria e Comissões do FONAJE – Fórum Nacional de Juizados Especiais, reunidos ordinariamente, nas dependências do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, na cidade de Florianópolis, em data de 04 de março de 2016, convictos de que as disposições do artigo 219 do Novo CPC, relativas à contagem de prazos processuais, não se aplicam ao Sistema de Juizados Especiais, deliberaram por elaborar e divulgar a presente Nota Técnica, já como indicativo de proposta de enunciado específico a ser apreciada por ocasião do XXXIX Encontro do FONAJE, a ter lugar em Maceió-AL, de 08 a 10 de junho de 2016, dada a flagrante incompatibilidade com os critérios informadores da Lei 9.099/1995.O legislador de 1995, ao conceber os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e discipliná-los por via da Lei 9.099, alinhou, em seu artigo 2º, os critérios informadores sob os quais deverá se orientar o processo neste especial ramo de jurisdição, quais sejam o da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e, destacadamente ao que interessa à presente Nota Técnica, o da celeridade.Desde sua entrada em vigor, a Lei 9.099 veio convivendo com o CPC de 1.973 sem que o procedimento nela estatuído sofresse influências da lei processual comum codificada, posto sustentar-se esta em princípios absolutamente inconciliáveis com os aludidos critérios informadores. Estabeleceu-se, assim, a convicção de que as disposições codificadas não se aplicam ao rito dos processos que tramitem em sede de Juizados Especiais Cíveis em sua fase de conhecimento, mas tão só - e no que couber - à fase de execução (cumprimento) de sentença, assim como, subsidiariamente, à execução de título extrajudicial.Consabidamente, não há prazos legais previstos pela Lei 9.099 para a fase de conhecimento, de modo que todos os prazos são judiciais. A única exceção é relativa ao Recurso Inominado, para o qual prevê o prazo de 10 dias. E todos esses prazos sempre foram contados em dias corridos, mesmo porque, até 2015, não se conhecia no ordenamento jurídico brasileiro nenhuma outra lei adjetiva que contemplasse algum método diverso de cômputo.Com o advento do Novo Código de Processo Civil (CPC de 2015), por força do artigo 219, a justiça cível dita comum passa a conviver com a contagem de prazos legais e judiciais em dias úteis, em inexplicável distanciamento e indisfarçável subversão ao princípio constitucional da razoável duração do processo.Todavia, forçoso é concluir que a contagem ali prevista não se aplica ao rito dos Juizados Especiais, primeiramente pela incompatibilidade com o critério informador da celeridade, convindo ter em mente que a Lei 9.099 conserva íntegro o seu caráter de lei especial frente ao Novo CPC, desimportando, por óbvio, a superveniência deste em relação àquela.Não bastasse esse argumento, cumpre não perder de vista que o legislador de 2015, em alguns poucos artigos, fez remissão expressa aos Juizados Especiais, disciplinando, modo cogente, a aplicação desses dispositivos da lei processual comum ao procedimento regulado pela Lei 9.099. A melhor técnica de hermenêutica jurídica leva, necessariamente, à conclusão de que, assim agindo, o legislador quis limitar, numerus clausus, àquelas hipóteses, as influências do CPC sobre o sistema dos juizados, ciente das implicações prejudiciais decorrentes de uma maior ingerência legal que porventura houvesse, claramente contra os interesses do jurisdicionado que acorre aos juizados. Inclusio unius est exclusio alterius.
Por outro lado, em seu XXXVIII Encontro, realizado em Belo Horizonte-MG, em novembro de 2015, o FONAJE, antecipando-se, expediu enunciado em que se subssume a questão dos prazos, v.g., “Considerando o princípio da especialidade, o CPC/2015 somente terá aplicação ao Sistema dos Juizados Especiais nos casos de expressa e específica remissão ou na hipótese de compatibilidade com os critérios previstos no art. 2º da Lei 9.099/95.”Postas tais considerações, o FONAJE externa a sua posição pela inaplicabilidade do artigo 219 do CPC/2015 aos Juizados Especiais, da mesma forma que não se aplica ao Processo do Trabalho (art. 775 da CLT) e ao Processo Penal (art. 798 do CPP).Florianópolis, 04 de março de 2016.Desembargador Jones Figueiredo (TJPE)
Presidente do FONAJE
Juiz de Direito Gustavo A. Gastal Diefenthäler (TJRS)
Secretário-Geral do FONAJE
Juiz Ricardo Cunha Chimenti (TJSP)
Presidente da Comissão Legislativa do FONAJE
*Comentários a respeito realizados no Facebbok:
Eduardo Niederauer Na semana passada eu estive reunido com o desembargador presidente das Turmas Recursais do TJDFT, onde já foi expedido ato aplicando a contagem de prazos do CPC/2016 aos juizados. Em que pese o tema ainda ser polêmico, entendo ser aplicável sem prejuízo à celeridade, já que o acúmulo de processos nos juizados impede, de qualquer forma, o estrito cumprimento do tempo estimado pela lei para duração do processo.
José Ronaldo Dias Campos Pelo
critério de purificação, frente ao conflito de normas da mesma
hierarquia (ordinária), prevalece a regra da especialidade, que mais se
coadunada com o procedimento sumaríssimo do juizado especial.
Eduardo Niederauer Eu
entendia assim também, mas o procedimento do juizado não estabelece
nada sobre prazos, sendo-lhe aplicada, até então as normas do antigo
CPC. Com a revogação deste e em razão da omissão normativa da 9.099,
entendo pela integração do direito com a aplicação da norma em vigor que
melhor se assemelhar ao caso, o que acaba sendo o Cpc de 2016.
José Ronaldo Dias Campos Sendo assim, sem regra especial para a contagem do prazo, não há conflito, permanecendo a norma matriz, agora pela nova versão.
Eduardo Niederauer Exato, e a nova versão estabelece contagem em dias úteis.
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