Padre, educador e poeta iluminado
Manuel Rebouças Albuquerque (1907/77), um dos maiores poetas da língua portuguesa, nominado de “amazonas dos poetas” por Mário Fernandes Imbiriba, porquanto, segundo o mencionado Coronel, os bardos santarenos, comparados com o religioso, não passavam de “simples igarapés”.
Amazônida de nascimento, embora de formação europeia, viveu conosco por várias décadas, muito contribuindo com a cultura regional. Seus celebres poemas espalhados pelo mundo foram traduzidos para dezenas de línguas e dialetos.
Ao retornar a Santarém, segundo pessoas com quem conversei, trouxe do velho mundo o ideal socialista. Ele sonhava com uma reforma agrária regional, mas como o Norte tinha mais terras que habitantes, sem conflitos, voltou sua ação para ajudar os nordestinos que aqui chegavam, doando a cada casal uma porção de terra e dois cavalos para que fossem para o Planalto. Ainda existem famílias que vivenciaram dita experiência
Ele teve destacada influência em minha família, chegando ao ponto de opinar e até mudar os nossos nomes por ocasião do batismo, com a chancela de meus pais, seus admiradores, que seguiam os seus sábios aconselhamentos.
Duas irmãs minhas, Rubenita e Rosilda Campos, foram suas “Goretinhas”, nome carinhoso atribuído às alunas da Escola Madre Maria Gorete, fundada e administrada pelo padre educador.
Patrocinava, em razão da precariedade de algumas famílias, intercâmbio às crianças para estudar em centros mais evoluídos, como aconteceu com a minha irmã Rubenita, que foi estudar em Vitória/ES, na década de 50.
Seus sermões eram formosos e famosos pela facilidade e fecundidade com o que manejava o vernáculo, sempre em tom poético, que encantavam aos fiéis e multiplicavam admiradores.
A devoção incondicional à Nossa Senhora era marcante em sua vida, tendo dedicado grande parte de sua produção literária à Virgem Maria de seu coração, chegando a se imortalizar pelas academias de letras do Maranhão, Ceará e Amazonas, segundo o historiador Cristovam Sena.
Eu ainda cheguei a procurá-lo, no ano de 1970, quando garoto, acompanhado de minha mãe, a professora e poetisa Maria da Glória Dias Campos, sua comadre, na Igreja da Glória, no Rio de Janeiro, onde foi capelão por algum tempo.
Deixou importantes obras, hoje relíquias disputadas nos sebos por todo o Brasil, tais como: Maria, minha poesia; Maria, minha canção; Brasil do meu amor; Cristais sonoros; De volta do meu garimpo; Sorrisos de minha Mãe; Meu sabiá; A Glorificação do Monossílabo; Estrelas para a tua fronte, algumas dessas raridades bem guardadas no acervo do amigo Cristóvão Sena, confrade do IHGTap, no Instituto Boanerges Sena.
Para concluir, colaciono um dos poema de sua lavra, para aferição da qualidade literária do meu saudoso padrinho:
Prova infalível
Quando eu soltar meu último suspiro;
quando o meu corpo se tornar gelado,
e o meu olhar se apresentar vidrado,
e quiserdes saber se inda respiro,
Eis o melhor processo que eu sugiro:
— Não coloqueis o espelho decantado
em frente ao meu nariz, mesmo encostado,
porque não falha a prova que eu prefiro:
Fazei assim: — Por cima do meu peito.
do lado esquerdo, colocai a mão.
e procedei, seguros, deste jeito:
Dizei “MARIA!” junto ao meu ouvido
e se não palpitar meu coração,
então é certo que eu terei morrido!