domingo, 1 de setembro de 2013

Barragens podem provocar avanço de águas do Amazonas em Alter do Chão




O alerta foi feito por Maurício Torres, professor e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) por ocasião da audiência pública sobre as hidrelétricas do Tapajós realizada nesta sexta-feira, 30, pela Subseção Santarém da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no campus Tapajós da Ufopa.

Segundo o pesquisador, se forem construídas barragens de 36 metros de altura, como está previsto no projeto das Hidrelétricas de São Luís e Jatobá, ambas na bacia do Tapajós, a tendência é que as águas barrentas do Rio Amazonas avancem em direção a várias comunidades, uma delas é Alter do Chão.

Da mesma preocupação comunga o padre Edilberto Sena, que participou da audiência representando os movimentos sociais. Ele questionou como ficará a situação de comunidades como Pimental, São Luiz, Vila Raiol, Praia do Mar, Bacabal, dezenas de outras, além das cidades de Jacareacanga, Trairão, Itaituba, Aveiro, Santarém e a vila de Alter do Chão, já que a cada ano as águas barrentas do Amazonas empurram as águas do Tapajós na frente de Santarém e entram além do Porto da Companhia Docas do Pará. “Com uma barragem de 36 metros de altura acima de Itaituba, quem pode dizer que o Amazonas não vai invadir o Lago Verde de Alter do Chão, as praias de Ponta de Pedras em Santarém e Pindobal em Belterra. Até onde as águas do Amazonas vão permanentemente dominar as águas do Tapajós?”, questionou. 

O projeto das hidrelétricas do Tapajós também ameaça os saberes tradicionais, segundo o pesquisador Maurício Torres. Ele informou que na comunidade Jatobá os produtores têm 48 espécies de mandioca cultivada, das quais a Embrapa só conhece e têm catalogadas seis. Toda área onde essa mandioca está plantada será alagada caso seja construída a hidrelétrica de Jatobá. 


Questionários
Trabalhando na região desde 2004, o professor da USP disse ver com preocupação os questionários que estão sendo aplicados pelas empresas contratadas pelo governo para os estudos socioeconômicos da área onde se pretende construir as hidrelétricas na bacia do Tapajós. “Há pouco tempo, tive a oportunidade de conhecer o senhor Chico Augusto que com 82 anos de idade, foi à cidade pela primeira vez no ano passado, em minha companhia, para tirar a certidão de nascimento e tentar se aposentar. No questionário quando perguntado o que fazia nas horas de lazer, respondeu que ia passear na cidade. Ora, como pode ter como lazer ir à cidade, se em 82 anos a pessoa só esteve na cidade uma vez?”questiona Maurício Torres, acrescentando que não acredita que esteja havendo ma fé na aplicação dos questionários, e sim, em despreparo que pode gerar um resultado criminoso, com informações que não condizem com a realidade.

Maurício alerta ainda que quando as populações tradicionais assinam questionários como esses, sem saber o que estão fazendo, elas estão renunciando o seu direito à floresta, ao lugar onde vivem e ao uso dos recursos sustentáveis.

O padre Edilberto Sena protestou contra a presença de militares armados nos locais onde estão sendo aplicados os questionários como forma de intimidar as pessoas. Segundo ele, isso está acontecendo atualmente em Jacareacanga, onde helicópteros fazem voos rasantes sobre terras Munduruku e militares fortemente armados acompanham os pesquisadores incumbidos de fazer o levantamento da fauna, flora e recursos hidrológicos do Tapajós no mais curto espaço de tempo para que o EIA/Rima fique pronto até 15 de dezembro.

Reservatório
Maurício Torres e padre Edilberto questionaram o representante da Eletronorte sobre o termo “fio d’água” que está sendo usado para as barragens de 36 metros de altura previstas no projeto de São Luís do Tapajós e Jatobá. 

A explicação técnica dada aos participantes da audiência pública é de que “Fio d’água” é um termo da engenharia para se referir a um reservatório que não tem capacidade de regulação. Ou seja, toda a água que entrar pelo rio vai ter que sair, seja pela casa de força seja pelo vertedouro. Se houvesse acúmulo de água no reservatório, a água passaria por cima da barragem. Então, sempre que houver cheia a água vaza e não há necessidade de regulação.

Fonte: O Estado do Tapajós

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