sexta-feira, 9 de maio de 2014

O 1º presidente a visitar Santarém


Fonte: Jeso Carneiro
sidney 
Affonso Penna, presidente, e ao lado o mercado municipal. Fotos: arquivo particular de Sidney Canto

por Sidney Augusto Canto (*)

Sidney Augusto Canto - Blog do Jeso 
Muitas pessoas pensam que o primeiro presidente da República a visitar a Pérola do Tapajós foi Getúlio Vargas, que, proveniente da cidade de Rio Branco, aqui aterrissou no dia 14 de outubro de 1940.
Acolhido pelo povo e pelas autoridades locais, Getúlio permaneceu cerca de meia hora na Igreja Matriz. Causou-lhe admiração o “Ex-voto de Martius”, pois não imaginava que o famoso naturalista pudesse ter feito tal doação a uma igreja do interior do Brasil.
ente a visitar Santarém. Em 24 de junho de 1906, durante sua famosa “Viagem pelo Brasil”, o presidente Affonso Penna foi o primeiro chefe do Executivo republicano a aportar em nossa cidade. Tal como Getúlio, sua permanência foi curta. De um relato sobre esta viagem, tiramos as impressões da Santarém daquela ocasião:
“A cidade, situada na margem direita na margem direita do rio Tapajós e a pequena distância da embocadura deste, tem ruas bem alinhadas e casas regulares. Aí está instalado um mastro de 70 metros de altura, para telegrafia sem fio.
Destina-se a experiências que vão ser feitas por uma companhia norte-americana para as comunicações telegráficas entre Pará e Manaus; já foram executadas com feliz resultado transmissões radiográficas entre Pará e Breves, e a companhia, à custa da qual estão se fazendo estas instalações, mantém as maiores esperanças de êxito.
A cidade possui um mercado pequeno, mas decente, onde vimos tartarugas, as curiosas cuias bordadas, especialidade da indústria local, e vários outros objetos entre os quais o mais interessante era certamente a macacaporanga.
É um vegetal arborescente cujas folhas e partes lenhosas passam como possuindo propriedades importantes em matéria amorosa.
Tem um cheiro muito agradável a macacaporanga, que serve a preparação de uma água de “toilette” muito apreciada e procurada pelas virtudes que, segundo a crença corrente da região, ela possui.
Este deseja obter a correspondência na afeição? Aquela deseja um marido? Aquela outra pretende levar a discórdia a um lar, chamando para si uma parte das carícias do esposo? – Tudo isso é obtido facilmente com o filtro inebriante e cheiroso para onde passaram, em solução, as virtudes admiráveis da macacaporanga.
Quando chegamos em Santarém havia, no pequeno mercado à margem do Tapajós, dezenas de pequenos feixes de lenho e folhas da preciosa planta, postos a venda por 100 e 200 réis cada um.
Por ocasião do nosso embarque, no mercado ainda ficavam as cuias bordadas, as tartarugas e outros artigos, mas já não se viam os feixes de macacaporanga…”.
O mercado citado no texto acima foi inaugurado no final do século XIX, e ficava próximo ao antigo trapiche municipal. Apesar da borracha e do cacau serem os principais produtos de exportação da época, foram produtos da cultura local que mais chamaram atenção da comitiva do presidente Affonso Penna.
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* Santareno, é padre diocesano e presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós. O artigo faz parte da obra inédita “Santarém: história e curiosidades”, de autoria dele e cujo cujo conteúdo passou a ser publicado neste blog desde domingo (4).

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