Por José Ronaldo Campos
A insegurança que aflige o brasileiro decorre da ausência do Estado, que tolera a existência e o fortalecimento do crime organizado em todo o país. Não se pode culpar exclusivamente a polícia por essa expansão, mas sim o Estado como um todo, que permitiu que essa endemia se enraizasse, ganhasse corpo e se fortalecesse, até adquirir um poder que desafia as instituições.
As facções criminosas, que inicialmente dominaram as periferias e hoje se espalham por todo lugar, possuem força eleitoral suficiente para eleger seus próprios representantes. Estes, por sua vez, atuam como porta-vozes do crime no legislativo, exercendo influência e poder, muitas vezes através da corrupção e da intimidação. É inegável que já se percebe a infiltração de membros ou aliados do crime organizado nos poderes da República, corrompendo valores e desestabilizando as bases do Estado Democrático de Direito.
Quem conhece o Rio de Janeiro entende perfeitamente o que está em questão. Comunidades inteiras vivem sob o domínio de traficantes, que substituíram a presença do Estado. Eles ditam regras, aplicam penas, executam sentenças de morte e controlam a vida dos moradores. São os novos “senhores do território”, enquanto os poderes constituídos – legislativo, executivo e judiciário – permanecem inertes. O Estado paralelo, ou melhor, o Estado marginal, não apenas desconsidera as instituições oficiais, mas as afronta diretamente, reforçando seu domínio e ampliando sua influência.
Minha maior preocupação é que essa força paralela, sustentada por um poder econômico robusto, acabe por superar o poder estatal. Se isso acontecer, nossas instituições poderão ser completamente dominadas, estabelecendo um regime de caos e opressão. Estamos diante de um cenário onde o crime, munido de recursos financeiros e armamentos pesados, já disputa espaços de poder político e institucional.
Como bem dizia o jurista J. J. Calmon de Passos: “Poder sem força é água de barrela.” Essa frase ilustra com precisão o enfraquecimento das nossas instituições diante do avanço do crime organizado.
Vivemos um estado de insegurança tão alarmante que a liberdade constitucional de ir e vir tornou-se privilégio de poucos. Quem ousa sair às ruas usando relógio, corrente ou celular sem sentir medo? Quem se arrisca a transitar por áreas dominadas por facções criminosas? A violência não é mais uma ameaça distante; é uma realidade que atinge a todos.
E quem, em sã consciência, teria coragem de subir um morro no Rio de Janeiro? Vá lá e depois me responda. O que encontraremos não é apenas violência, mas um retrato cruel do fracasso estatal: o abandono de milhares de brasileiros à mercê do poder paralelo.
A reconstrução do Estado e a retomada do controle territorial não são apenas necessárias, mas urgentes prioridades. Caso contrário, estaremos não apenas assistindo ao colapso, mas sendo por ele engolidos.
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