sábado, 26 de abril de 2025

Por onde anda a justiça?

Dizem que a Justiça reside no fórum, com seus meirinhos, paredes frias, corredores extensos, carpete que abafa o som dos passos e distancia o juiz do povo — sempre bem protegida. Mas, com o devido respeito à toga, não é bem assim. A verdadeira casa da Justiça é o cotidiano que nos circunda; está em todo lugar, independentemente de meridianos e paralelos. Robinson Crusoé, depois do índio Sexta-Feira, que o diga!

Ela mora na rua — no banco da praça, onde a parte se aconselha com o vizinho mais velho; no balcão da feira, onde se resolve o fiado não documentado em contrato; na beira do rio, onde dois ribeirinhos decidem a divergência sobre a canoa avariada, e assim por diante. É o “direito achado na rua”: esse que não vem da toga, mas da autocomposição, da razão e do coração — da compreensão popular que conserta, que remenda sem exasperar os ânimos, pacificando amistosamente o impasse.

O fórum pode ser o templo da lei. Mas a Justiça, essa perseguida, prefere andar descalça, ouvir a vida, sujar os pés de poeira. Ela aparece, por exemplo, quando o advogado se recusa a judicializar o que pode ser resolvido com uma boa conversa; quando o promotor se permite ouvir mais do que acusar; quando o juiz desce — simbólica ou literalmente — do estrado, sem perder a autoridade, para dialogar com os contendores, inspecionar a coisa objeto do litígio, e por aí afora.

Justiça que só se reconhece no carimbo, nas entranhas dos autos, na estatística criada para cumprir metas do CNJ, é justiça pensa, capenga. E, como dizia aquele professor de conversa franca: o Direito só faz sentido se servir ao povo — verdadeiro destinatário da norma —, com suas necessidades e contradições.

A casa da Justiça é feita de gente. E gente mora na rua, nos bairros, nas comunidades. Talvez seja hora de diversificar o endereço da Justiça. Não para improvisá-la, mas para devolvê-la, como um caudaloso rio, ao seu curso natural.

Justiça — esse misto de realidade e utopia — é processo social. E o verdadeiro juiz, para melhor compreender o drama humano, deve descer do púlpito e escutar o murmúrio da rua antes de pronunciar a sentença.

Sentença justa não nasce apenas dos autos, artificialmente, sobretudo se o julgador se preocupa mais em cumprir metas, como se o processo fosse simples número estatístico de promoção ou reprovação funcional. Justiça que ignora o ser humano não passa de inutilidade burocrática. Pura água de barrela.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Vidas ao relento

Transitando diariamente pela avenida Presidente Vargas, no cruzamento com a rua Silva Jardim, deparo-me, com perplexidade, com uma cena triste e persistente: três pessoas em situação de rua sentadas no canteiro central. Estão ali todos os dias, há meses, sob o sol escaldante e a chuva impiedosa. Suas únicas posses são as roupas do corpo.

Quando chove, correm para as biqueiras das casas. À noite, estendem-se nas calçadas, expostos às intempéries, à indiferença, à crueldade cotidiana de uma cidade que aprendeu a desviar o olhar dos dramas sociais.

É triste, @migo leitor, a vida desse trio. Tudo indica que sejam da mesma família — uma senhora e dois senhores de meia-idade, vivendo sem o mínimo existencial, sem assistência, sem dignidade, completamente invisíveis aos olhos do poder público.

A senhorinha, mais debilitada do grupo, inspira cuidados urgentes. E, se nada for feito, temo que seu destino se consuma ali mesmo, diante da nossa passividade coletiva.

O poder público precisa despertar. É inadmissível que seres humanos sejam tratados como descartáveis, jogados nas calçadas da vida, em condições piores do que aquelas reservadas aos animais.

Que Deus os proteja. Mas que também nos incomode. Porque o que está em jogo ali não é só a vida deles — é a nossa humanidade.

domingo, 13 de abril de 2025

O ninho dourado do cauré

Dizem os antigos que o cauré não sua, não corre, não força. Ele plana. Abre as asas e confia no vento. Seu ninho não é construído — é presenteado.

Fios de palha fina, teias de aranha, fiapos de sol. Tudo chega até ele, como se a própria floresta sussurrasse: - descansa, pequeno. Eu cuido de tudo.

E o que nasce disso? Um ninho delicado, trançado com o invisível. Brilha à luz como se fosse feito de fios de ouro. Não é riqueza de mercado — é riqueza de espírito.

Por isso, quando alguém encontra um ninho de cauré, o faz em silêncio, com reverência. Mas não leva — porque a lei protege o que é da natureza. A captura, a remoção, o comércio: tudo isso é proibido, e com razão. Não se toca em símbolo sagrado.

Hoje, mais que amuleto, o ninho do cauré é lembrança viva de que sorte boa é aquela que respeita o voo do outro.

Afinal, quem avista um ninho de cauré, mesmo de longe, já recebeu o recado:

às vezes, pela força da natureza, a vida se ajeita sozinha, lançando luz no caminho.

sábado, 5 de abril de 2025

Antes da sentença, a sabedoria

O advogado é o primeiro juiz da causa. Cabe a ele ouvir, compreender e orientar — com técnica, empatia e estratégia o seu constituinte.

Em tempos de Justiça Multiportas, litigar por litigar é erro de avaliação. A boa advocacia busca soluções antes de sentenças. E entende que, muitas vezes, a paz se alcança fora dos autos.

Orientar bem é proteger o cliente dos riscos, inclusive emocionais. Porque vitória, no Direito, nem sempre está na sentença — mas na escolha certa do caminho pacificador.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Fique atento!

A Inteligência Artificial (IA) já se firmou como uma das maiores inovações dos últimos anos. No entanto, por mais avançada que seja, não é infalível. Antes de aceitar qualquer informação como verdadeira, verifique os dados, pesquise e analise com senso crítico. A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas a responsabilidade pelo uso consciente e adequado ainda é sua. Melhor conferir antes de adotar!