domingo, 29 de julho de 2012

Mário Cidadão: nativo de Alter do Chão

Os repórteres Mário Osava e Alejandro Kirk navegaram pelo Lago Verde, em Alter do Chão, distrito de Santarém, região do Tapajós, para observar a pesquisa e a proteção de quelônios que cientistas e experientes pescadores locais compartilham, com destaque ao  meu vizinho e dileto amigo Mário Maranhão, que melhor seria nominá-lo Mário Cidadão, pelo silente trabalho preservacionista desenvolvido no seio da selva amazônica, como se infere do relato a seguir colacionado:

Expedição em busca de quelônios amazônicos

    
SANTARÉM, 2 de março de 2009 (Tierramérica).- Mário Maranhão acredita que sempre teve alma de conservacionista. Quando precisava caçar para comer, “matava o necessário e nunca as fêmeas”, conta. Há cinco anos, começou a salvar quelônios que nascem perto de Alter do Chão, um paraíso natural na Amazônia oriental. O trabalho ecológico deste guia turístico de 52 anos se tornou sistemático e qualificado ao associar-se com pesquisadores acadêmicos. Nos três últimos anos, percorreu as praias dos arredores todas as noites, entre final de setembro e começo de dezembro, em busca de ninhos com ovos recém-enterrados pelos quelônios, animais que as pessoas conhecem pelo nome de um grupo de suas espécies, as tartarugas.
  
Os tracajás (Podocnemis unifilis) costumam desovar entre 18h e 22h e os pitiús (Podocnemis sextuberculata) entre 1h e 4h, obrigando Mário a prolongados e solitários passeios noturnos que quase lhe custaram o casamento, confessa. O acompanhamento dos ninhos acaba quase dois meses depois, quando nascem os animaizinhos. Seu protetor os leva para casa e cuida deles durante mais dois meses antes de soltá-los no Lago Verde, cujas belas praias atraem muitos turistas a Alter do Chão, uma localidade do município de Santarém, a 800 quilômetros do Oceano Atlântico pelo Rio Amazonas.

Todo esse cuidado é para evitar que as pessoas comam os ovos e que os predadores naturais, como gaviões e peixes, deem conta das crias. A intenção é recuperar a população de quelônios, uma ordem da classe dos répteis. Estes animais são muito prolíficos. Uma tartaruga amazônica (Podocnemis expansa), a maior espécie da região, pode pôr mais de cem ovos em cada ninho. Porém, pouquíssimas crias chegam à idade adulta, devido à intensa depredação dos ovos e dos filhotes quando sua carapaça ainda não endureceu.

Por essa razão, o manejo praticado por populações ribeirinhas é uma boa solução para conservar e multiplicar os quelônios, segundo Juarez Pezzuti, professor da Universidade Federal do Pará, que coordena várias pesquisas sobre fauna aquática amazônica. Em animais de alta fecundidade e mortalidade como estes, com pequenos cuidados na reprodução se consegue uma eficácia multiplicadora, assegura.

Um projeto governamental de criação, que devolveu, a vários rios amazônicos, dezenas de milhões de animaizinhos e que protege 115 áreas de reprodução desde a década de 80, conseguiu espantar o risco de extinção que pairava sobre as tartarugas e recuperar a população dessa e de outras espécies. Pezzuti aposta no manejo comunitário por razões ecológicas e sociais. A caça ou pesca de quelônios é proibida no Brasil desde 1967, como a de outros animais silvestres. Mas a população local continua comendo sua carne e seus ovos, em muitos casos por necessidade. Quando as espécies maiores faltam, como a tartaruga e o tracajá, também pescam as menores.

Evitar a captura de fêmeas durante a desova, por exemplo, elimina o principal fator de redução de algumas espécies. Dirigir a coleta de ovos a ninhos vulneráveis à destruição por inundações, pelo pisoteio do gado ou por excesso de fêmeas desovando em um mesmo lugar também favorece a abundância de animais, algo que interessa às populações locais para garantirem alimentos. A tartaruga, antes muito abundante, teve grande importância alimentar na Amazônia brasileira nos três últimos séculos. O aumento da população local, e a transformação de sua carne em manjar de alto valor comercial, além do uso de seu óleo na iluminação pública, levaram à superexploração e à ameaça de extinção.

Pezzzuti, um etnoecologista que pesquisou em sua tese de mestrado e doutorado a reprodução de quelônios na Amazônia, valoriza o conhecimento da população local em seus estudos. Por isso, fala de manejo conjunto e procura integrar conhecimentos tradicionais e acadêmicos. A ciência “eurocentrista” geralmente ignora a experiência popular, o que dificulta o avanço das pesquisas e, não em poucas ocasiões, conduziu a conclusões equivocadas, segundo o professor. “Para mim, seria impossível trabalhar sem recorrer à sabedoria das populações amazônicas, acumulada durante séculos”, reconhece.

A pesquisa sobre os quelônios no Lago Verde que Rachel Leite realiza, para sua tese de mestrado sob orientação de Pezzuti, conta com a colaboração, além de Maranhão, de Paulo de Jesus, barqueiro e exímio pescador de tartarugas. Em uma expedição junto com os pesquisadores e os repórteres deste artigo, Jesus conseguiu pescar, agarrando-os com as mãos, cinco exemplares de tartarugas, tracajás e pirangas (Podocnemis erytrhocephala), mergulhando a dois metros de profundidade em um igapó (floresta inundada) de Lago Verde.

Sua acuidade visual, que lhe permite descobrir os quelônios onde nada viam os dois pesquisadores e um repórter que se aventuraram na água verde-terra, revela a capacidade que desenvolveu como caçador de sobrevivência e em sua atual ocupação, de captura de peixes ornamentais. Hoje sua habilidade está a serviço da ciência, talvez por isso evite responder se voltaria a comer tartaruga.

Os quelônios encontrados são identificados, medidos, marcados e devolvidos no mesmo lugar pela pesquisadora Rachel, que desde setembro os busca regularmente em várias partes do Lago Verde. O começo foi “desesperador, não víamos os bichos”, recorda. Mais tarde, os pescadores explicaram que os animais estavam “enterrados no lodo”. Era a estiagem, quando o nível das águas do Lago pode baixar até seis metros. Agora, com a cheia do Rio Tapajós, que alimenta o Lago, é mais fácil encontrá-los tomando sol ou debaixo d’água.

O estudo de Rachel Leite estimará a população das cinco espécies encontradas no Lago Verde, sua distribuição geográfica e estacional. As medições e marcações na carapaça de cada animal permitirão conhecer seu crescimento numa captura posterior, explica a bióloga. Para pesquisar a reprodução ela conta com apoio de Maranhão, outro especialista prático que consegue identificar ninhos onde poucos vislumbram alterações na praia. Em seus passeios noturnos não encontra apenas ninhos, mas também apaga as pegadas deixadas pelas fêmeas para impedir que os caçadores descubram os ovos.

A vocação de Maranhão também o converteu em educador ambiental: leva crianças para ver o nascimento das tartarugas. A efetividade dessa experiência é comprovada por Roberto Santos, o barqueiro que transporta a equipe de pesquisas e os repórteres para observar cinco ninhos, em dois dos quais haviam nascido dez crias, levadas para o “berço” de Maranhão. Santos se sente “emocionado” ao vê-las e a partir dessa experiência se declara “defensor das tartarugas. Agora vejo a vida que nasce, antes não tinha consciência disso”, afirmou.
* Os autores são correspondentes da IPS. Este artigo é parte de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (www.complu)



sábado, 28 de julho de 2012

Eleições 2012


Já que os partidos políticos não oportunizaram melhor opção para o exercício do voto consciente, só resta agora ao eleitor, no momento do sufrágio, escolher dentre os apresentados, o(a) candidato(a) que preencher atributos condizentes com o cargo eletivo almejado, como sendo: honestidade, capacidade laborativa e vontade política para transformar Santarém numa cidade verdadeiramente aprazível, porquanto belezas naturais e riquezas não lhe faltam.

Ultrapassado o pleito, com a posse dos vencedores no certame, o povo, verdadeiro titular do poder, no exercício da cidadania ativa, deverá promover as cobranças necessárias aos eleitos, fiscalizando suas ações, inclusive pelo indispensável controle jurisdicional por via das ações coletivas: popular e civil pública.

Fica aqui a dica!!!

  • José Miguel Aires de Mendonça Sábias e oportunas palavras!
    sábado às 19:10 via celular ·

  • Kleper Costa Certíssimo Dr! Infelizmente só restou um candidato confiável, contudo, a hipossuficiência financeira da agremiação política do mesmo, parece não ser suficiente para derrubar aqueles q há décadas se locupletam às custas do dinheiro público em Santarém...
    sábado às 19:45 via celular · · 1

  • Maria Azevedo Ótima dica para todas as cidades brasileiras. Manaus de olho na dica, por favor!!!!!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

domingo, 22 de julho de 2012

Brasil versus a contestada Venezuela de Chaves

Se o país é autossuficiente em petróleo,  por que sobe o preço do combustível?

Texto da lavra do Pe. Edilberto Sena.

O Brasil, como a Venezuela, é um país autossuficiente na produção de petróleo. Como explicar que na Venezuela o motorista enche um tanque de carro com 10 reais de gasolina e no Brasil, país vizinho, com  10 reais o motorista só recebe 3 litros e meio do combustível? A resposta é simples, mas revoltante: é que na Venezuela, o governo democrático de Hugo Chaves estatizou a empresa produtora de petróleo e garante prioridade servir a seu povo. Já no Brasil, o governo também dito democrático, continua mantendo a Petrobrás como empresa semi-privatizada e entregue totalmente ao mercado financeiro. 

Assim, 51% do lucro da empresa é estatal e 49% pertencem aos acionistas e estes exigem ganhar mais lucros. A Petrobrás não tem mais o controle do Estado brasileiro, é uma empresa privada e segue a lei do mercado. Assim não tem jeito de o governo baixar o preço dos combustíveis. Hoje sobe o preço do óleo diesel, amanhã sobe o preço da gasolina e ninguém pode contestar. É a lei do mercado quem diz. É o absurdo de uma sociedade que lutou ferozmente em 1950 na campanha pelo “petróleo é nosso” e agora o petróleo é deles, por conta das privatizações das empresas estatais. 

Assim também acontece com o etanol. O Brasil é pioneiro na invenção do combustível vegetal, da cana de açúcar, no entanto o preço do etanol é um absurdo de caro. Quem controla o preço do etanol são os usineiros de cana de açúcar. Se o governo brasileiro fosse como o de Hugo Chaves, que muitos consideram ditador, o etanol poderia também ser estatal e o preço desse combustível poderia ser mais barato, porque mais ecológico. Porém, o governo brasileiro é mais democrático que o da Venezuela e por isso deixa livre o mercado do etanol.

Este é o país que vai pra frente, enquanto seu povo paga o preço, um quarto da população depende do bolsa família. Com tal submissão ao mercado financeiro o Brasil, auto-suficiente na produção de combustíveis e na produção de soja, minérios e gado, também carrega a vergonha de ¼ de sua população viver na miséria. 50 milhões de brasileiros dependem da mixaria do bolsa família. Ontem o petróleo era nosso e hoje é dos acionistas da Petrobrás. Triste democracia que é humilhada pela Petrobrás da Venezuela que enche um tanque com 10 reais de gasolina!

Santarém meu lindo berço...

Letra da música de Maria da Glória Dias Campos que disputou o Festival da Música Popular Santarena há aproximadamente de três décadas, na voz do cantor Orlando Rocha, no antigo Cristo Rei.

Santarém meu lindo berço...
Santarém de encantos mil. 
Tapajós e Amazonas,
Em constante desafio (bis).

Os filhos de Santarém...
Vibram de contentamento.
Por descender dos índios
Ter deles o encantamento!
Pois quem vem aqui na volta
É flechado e permanece
As morenas atraentes
De verdade os enlouquecem...

Santarém meu lindo berço...
Santarém de encantos mil.                           
Tapajós e Amazonas,
Em constante desafio (bis).

Sou santarena vaidosa...
Quero bem a minha terra,
Só peço consentimento
De Deus para morrer nela
Jesus Cristo aqui andou,
E a fez muito bonita;
Tudo nela é perfeição
Oh! Minha terra querida!

Santarém meu lindo berço...
Santarém de encantos mil.                           
Tapajós e Amazonas,
Em constante desafio (bis).


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Mapinguari existe


Autoria: Maria da Glória Dias Campos

O mapinguari existe...
E existe de verdade;
Prestem atenção neste conto
Que foi uma realidade!

Num povoado do Tapajós do Pará
Dois amigos foram caçar;
Num dia de domingo
Nas matas do lugar!

Muniram-se das suas armas
Até uma encruzilhada;
Onde se separaram
Em rumos opostos da estrada!

Um ao outro por assobio
Ficaram de dar sinal;
Só que se distanciaram
E se perderam afinal.

Um deles voltou pra casa...
O outro ao assobiar;
Alguém o arremedava
Até que o foi encontrar!

Escurecia quando viu,
Um monstro o querendo alcançar;
Deixando a arma de lado
Se puseram a lutar!

O monstro se ouriçava,
E um mau cheiro exalava;
Que o caçador quase sem forças
Na luta se embriagava!

Deus sim, porque venceu o bicho,
Com um certeiro tiro no peito;
Do bicho tirou-lhe a mão
Pra provar o grande feito!

Cansado desfaleceu
E dormiu embriagado;
O animal o cansou
Com o mau cheiro exalado!

Acordou ao amanhecer,
Quando o dia clareava;
O monstro desaparecera
Mas sua feia mão lá estava!

Será que ele morreu?
Disso não temos certeza.
O certo é que ele sumiu
Sem mão pra grande surpresa!

Caçadores acharam o homem
Que jamais voltou a ser;
O homem alegre e feliz
Que cheguei a conhecer!

Passava o dia cabisbaixo,
Sem querer trabalhar;
Definhando na tristeza
Como um demente a vagar!

E disso ele morreu...
Mas no Rio Tapajós;
Todos conhecem este conto
Como exemplo pra nós!

Domingo é pra descansar...
E até pra passear;
Aproveite pra rezar,
Mas nunca para caçar!

Preserve os animais...
Com sua roupagem bonita;
Eles todos nos são úteis
Por que lhes tirar a vida?

O mapinguari existe...
E veio pra castigar;
Quem não respeita o domingo
E...os animais vai matar!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O passeio da virgem

 Autoria: Maria da Glória Dias Campos

A Santa Virgem Maria,
Senhora da Conceição;
Padroeira de Santarém e Aveiro,
Querida da multidão!

Os antigos moradores de Aveiro,
Gostavam de nos contar;
Que ela deixava o nicho,
Pra nas praias passear!

E ao voltar do passeio,
Sem saber, trazia no manto;
Os carrapichos pregados,
Causando a todos grande espanto!

Os zeladores da Igreja,
Ou quem fazia a limpeza;
Contavam então para o povo,
Cheios de grande surpresa!

Contavam que certa vez...
A Santa às pressas chegou;
E ao subir ao altar,
De costas pra rua ficou.

Seu manto com a barra molhada,
De carrapichos, enfeitado;
Deveras surpreendente...
Que precisava ser contado!

Já que a Santa é milagrosa,
E de grande beleza;
Quem sabe o terço rezava,
Curtindo a natureza!

Adorei o conto senhores ...
Nos serve até de lição.
Passeemos pela praia,
Fazendo uma oração!

Pois era o que ela fazia.
Indo conversar com Jesus,
Pra que ajudasse o povo,
A carregar a sua cruz!

terça-feira, 17 de julho de 2012

Álbum de família




O signatário do blog ladeado por sua mãe Maria da Glória Dias Campos e irmã Rosilda Campos de Sousa no Teatro da Paz por ocasião de sua formatura no curso de Direito.

domingo, 15 de julho de 2012

Adivinhação

               Autoria: Maria da Glória Dias Campos
                                                              
Como bebida é gostoso...
E estimulante ele é;
Preto, de perfume atrativo,
Quem é que o mesmo não quer?

No lar do rico ou do pobre,
Ele sempre está presente;
Cura a embriaguez,
E tira o sono da gente!

Só que eu desconhecia,
É que podia realçar;
Num vaso, no subsolo de um prédio,
Por quê?... Pra quê?... Pra enfeitar...

Foi assim que nesta data,
Indo as unhas pintar.
No salão, encontrei um pé,
Com frutos a avermelhar.

Perguntei a mim mesma,
Qual a sua serventia?
E logo então descobri,
Para chamar a freguesia!

Agora faço a pergunta:
Já sabem o que é que é?
É o preferido de todos,
O saboroso CAFÉ!



sábado, 14 de julho de 2012

Contrassenso no caso Demóstenes

Demóstenes Torres, que perdeu o mandato de Senador da República pelo seu comportamento antiético no caso “Cachoeira”, por decisão de seus próprios pares, deverá retornar ao Ministério Público do estado de Goiás para exercer o cargo de Procurador de Justiça, que é vitalício, como noticiado pela mídia.

Agora pergunto: se o ex-senador não possui moral para compor a Corte Legislativa Nacional, como terá para ser Promotor, que exige reputação ilibada para a promoção da justiça social?

Se Demóstenes não pode legislar, da mesma forma não pode operar o Direito, na qualidade de fiscal da lei, nem como titular da ação penal, ou da ação civil pública, representando a sociedade, nos termos da Constituição Federal.

Reflitamos!

Comentários:

Ricardo Caçapietra O mais legal é que a grande mídia, que fez cobertura ao vivo da cassação, vai esquecer do Demóstenes. Por que será?
 
José Miguel Aires de Mendonça Jronaldo, o caso dele não deve, agora, ser julgado no âmbito do Judiciário?

Maria Azevedo Deve responder administrativamente no MP, se espera.

Ayrton Pereira Dos Santos Demostenes sofreu um julgamento político, acredito que o MP será um caso esquecido, pois o objetivo dos senadores era tão somente honrar a imagem do Senado.

JRonaldoDCampos Senador não pode!!! Promotor pode!!!

Maria Azevedo Caso seja punido no MP, o castigo será uma boa aposentadoria. Essas punições "exemplares" acontecem no Brasil.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Santa Clara na década de 30




*Manuscrito deixado pela minha saudosa mãe, professora e poetisa Maria da Glória Dias Campos, que dá vida às fotografias postadas pelo Pe. Sidney Canto, no facebook.

"No período de 1934 a 1937, dos 14 aos 17 anos, que passei interna no Colégio Santa Clara, como órfã, todas as segundas-feiras, após a missa de costume, que antecedia o café da manhã, minha obrigação, como das demais colegas, era a lavagem de roupa das 100 (cem) órfãs, padres e freiras daquele educandário.

Naquela época poucas eram as casas que possuíam água encanada e o nosso colégio era um deles.

A água era retirada de duas cisternas lá existentes. Umas delas recolhia a água das chuvas; a outra era movida por cata-vento, isto quando havia vento, dificultando até o nosso banho, que fazíamos duas vezes por semana, sendo um deles aos sábados, no rio confronte Santarém.

Bem em frente à primeira prefeitura da cidade, existia na beira-do-rio um banheiro, conhecido como banheiro das freiras. E aos sábados, lá íamos nós em grande fila, com duas irmãs para o banho.

Rezávamos para não chover, nem ventar... Sabem por quê? Pelo simples fato das cisternas não encherem.

Uma vez secas, tínhamos de ir lavar roupa no igarapé dos padres, no Irurá, onde saciávamos a vontade de tomar banho. 

Aos domingos à noite, uma das irmãs, após o jantar, lia a relação de órfãs que iriam lavar roupa.

Muitas vezes, mesmo sem estarmos em condições de saúde, escondíamos a verdade, já que era a única chance de sairmos e distrairmos um pouco.

E às cinco horas da manhã, após assistirmos a santa missa na capela do colégio e, tomado o café, seguíamos o longo percurso felizes a papaguear rumo ao Irurá.  

O carro de boi ia à frente cheinho de sacas de roupa, um panelão com farofa, frutas, e um pequeno rancho para o almoço do dia. Seu Chico, irmão da tia Neca, era quem conduzia a carroça.

O caminho era pela densa mata virgem, onde aqui e ali encontrávamos frutas silvestres como: araçá, pitanga, goiaba, achuá, caju e manga, oferta da mãe natureza.

Ao chegarmos ao Irurá mudávamos a roupa, merendávamos a farofa e caiamos no igarapé, onde passávamos quase o dia todo de molho, tomando banho e lavando roupa.

A tarefa era assim distribuída: umas lavavam as batinas, outras as camisas, outras as calcinhas, outras as cuecas, meias e lenços. Éramos em números de trinta meninas e três freiras.

O almoço era servido às 12h00min em cuias.

Cada uma tinha pressa em acabar com a obrigação para dar umas voltinhas pelas redondezas à cata de frutas, pois para sermos francas, sentíamos fome... A curta refeição não nos satisfazia.

Foi numa dessas nossas saídas que, desobedecendo às irmãs, fomos mais longe, atravessando o igarapé dos padres rumo ao campo do araçá.  

Havíamos nos distanciado quando fomos surpreendidas por uma manada de gado bravo, solto.

Dela surgiu um touro preto que investiu contra nós, obrigando-nos a subir em árvores, só que o danado simpatizou logo com a que eu estava, e embaixo dela ciscava, chifrava a tenra árvore, que não sei como não tombou. Ele dava urros pavorosos.

Imaginem quem nunca havia subido numa árvore antes.

As colegas das outras árvores, vendo que o touro só se preocupava conosco, desceram de mansinho, indo contar para as irmãs, que ficaram preocupadíssimas conosco.

Nós permanecemos na mira da fera, até que o animal resolveu acompanhar a manada que se distanciava.

Nós deixamos seguir um pouco e ato contínuo descemos da árvore e fomos nos juntar as outras colegas. 

Custou-nos a desobediência três dias de castigo, fazendo refeições de joelhos.

Acho que foi uma injustiça, já que a fome comandava os nossos passos.

Assim mesmo, valeu a desobediência!"

Rosilda Campos: a primeira mulher a assumir a Prefeitura de Santarém




 Saudade da minha irmã querida.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Descaso

Rua Hilda Mota, no bairro do Diamantino, entre as avenidas São João e Cristo Rei,  encontra-se assim: abandonada, intrafegável há meses, por completa inação do poder público. Providências urgentes precisam ser tomadas!!!




terça-feira, 10 de julho de 2012

Sonho possível...só depende de nós

Por Helvecio Santos (*)

Recentemente escrevi artigo intitulado Eu para prefeito, publicado no jornal A Gazeta, no Blog do Jeso e no blog Rabiscos do Antenor, onde exponho, de forma sucinta, o que penso serem os parâmetros que um candidato a prefeito deve mirar.
Parcela dos leitores do Blog do Jeso comentaram.
Alguns, impregnados do vírus futebolístico, deixando de lado o cerne do assunto – comprometimento com o futuro da cidade e dos munícipes -, torcendo pelos oito anos do governo do Sr. Lira Maia, outros torcendo pelos quase oito anos da Sra. Maria do Carmo.
Numa nociva comparação, tentavam justificar o desejo do retorno de um ou a continuação do outro. Penso que a continuar esse tipo de “torcida”, os únicos perdedores serão sempre os moradores e o município.
Primeiro, porque não é preciso uma análise profunda para se concluir que ambos deixaram a desejar, como de resto, todos os prefeitos que os antecederam. Segundo, porque como uma administração nada mais é do que a continuação da outra, ou deveria ser, sempre a seguinte seria melhor que a anterior, salvo se esta fosse um verdadeiro caos.
Talvez nessa postura “futebolística” residam os grandes males que nos afligem, pois os eleitores fazem um verdadeiro “cabo de guerra”, sem se importarem em analisar no período pré eleição os programas de governo e, no pós, cobrar a implementação dos ditos programas. Vestidos com as cores partidárias, o grupo perdedor fica na torcida do quanto pior melhor, esperando o fim do governo para a “brincadeira de roda” continuar.
Outros comentaram em tom jocoso, considerando-me um desinformado que não consegue entender que política é “assim mesmo”, onde as pessoas entram para se “darem bem” e a prova maior do “bom” político é o patrimônio exibido depois de pouco tempo. Por esta visão, eu seria presa fácil enveredando-me em seara alheia e desconhecida, habitada por lobos prestes a devorar quem ali se aventurasse.
À vista do respeito no trato com a coisa pública que exponho no artigo, um leitor disse que “na prática a teoria é outra” e que tão logo eu entrasse no “meio” iria me corromper. Já um outro afirmou que eu só ganharia uma eleição se “comprasse os líderes das comunidades mais importantes que me ensinariam o caminho das pedras das comunidades menores”.
Numa época, trabalhei num banco e dias após uma das muitas eleições que compareci, como o contínuo mostrava-se muito eufórico com o resultado, perguntei em quem ele votara e ele me respondeu que nunca perdera um voto. Só votava no candidato que estava à frente nas pesquisas. Também já ouvi isto em Santarém.
Em rápidas pinceladas, são algumas de nossas mazelas políticas as quais impactam fortemente no nosso dia a dia e pior, com consequências no nosso futuro. Voto dado, não adianta chorar o leite derramado!
Infelizmente, os eleitores ou comportam-se como torcedores de times de futebol ou votam para não perderem o voto ou, descrentes do sistema, anulam o voto em forma de protesto e calam-se para não serem ridicularizados.
Qual dos três é o seu caso, leitor?
Dos comentários dos blogueiros, pode-se concluir que temos um longo caminho a percorrer até começarmos a dar um fim nos males que nos assolam, o que desaguaria na cidade que sonhamos.
Afinal, quem disse que as coisas têm que ser assim? Numa comparação um tanto quanto exagerada, já pensou se os gregos não acreditassem que a democracia era um bom sistema de governo? Até hoje viveríamos sob o jugo de reis que diziam descender de divindades.
Então, se até os reis “divinos” deram passagem à vontade do povo, por que pensar e aceitar que política nada mais é do que a arte de “se dar bem” e que o eleitor comparece somente para validar?
É preciso acreditar que administrações voltadas para o próprio umbigo não é destino e que essa realidade é possível de ser mudada.
O pastor norte americano Martin Luther King, mártir da luta contra o preconceito racial, dizia que “o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.
Creio que as pessoas valem por suas idéias e estas é que devem ser levadas em consideração. No artigo “Eu para Prefeito”, expus uma idéia que penso ser boa. É um sintético manual de como achar políticos comprometidos com o município e com os munícipes.
Mas é errando que se aprende!
É preciso votar, quantas vezes for preciso, e o eleitor precisa entender que o voto é uma arma mortal que deve ser usada contra político “vampiro”, aquele que se sustenta com o sangue do povo, aumentando seu patrimônio ou não fazendo nada do que prometeu, o que dá no mesmo.
E qual a tarefa do eleitor na busca do “Eu” do artigo em comento?
Para uns é preciso saírem desse silêncio perigoso e para outros, não se comportarem como torcedores de futebol. É preciso analisar cuidadosamente as propostas dos candidatos e depois, por qualquer meio disponível, cobrar a realização das propostas de campanha. É preciso não trocar o voto por um “caraminguá” qualquer, vendendo barato nosso futuro e o futuro dos nossos filhos. É preciso que ao se sentir lesado em seu voto pelo não cumprimento das promessas de campanha, apostar no novo, independente de partido.
Por findo, é preciso banir o político profissional, aquele que na época das eleições bota uma “cara” com um belo sorriso e aperta a mão até de boneco de posto de gasolina e, se eleito, alça vôo e só retorna no próximo período.
Dom Hélder Câmara dizia que “quando uma pessoa sonha é somente um sonho mas, se muitos sonham, o sonho vira realidade”.
Comparo o artigo “Eu para Prefeito” a uma pedra que lançada no meio do lago, vai formando círculos concêntricos que vão, vão, vão até alcançarem a beira do lago. Espero que um dia a beira do lago seja alcançada e as pessoas escolham os nossos governantes pelos programas apresentados e que o cumprimento desses programas seja cobrado ao longo do mandato e, mais, que os “ungidos” que não cumprirem suas promessas de campanha, sejam banidos da vida pública através do voto.
Este é o meu sonho!
Modestamente lancei luz sobre a forma correta de tratar a coisa pública, convidando a materializarmos um sonho que só depende de nós. Basta tirar os antolhos, ver que há um presente melhor e um futuro idem que passam longe dessa inútil disputa de “torcida de futebol”, dessas comparações insossas sobre governos em quase nada diferentes e dessas “máximas” de política de esgoto.
Isso só interessa aos políticos e a seus apaniguados!
Mas se esse não for o entendimento, só por pirraça, vamos votar em caras novas, nem que seja pelo prazer de fazermos novos ricos.
Ah! Uma última coisa! Esqueceram de tachar-me do que eu gostaria. Louco seria bem apropriado e eu procuro loucos como eu. Loucos por decência, loucos por ética, loucos por honestidade, loucos por lealdade, loucos por dignidade, loucos por SANTARÉM.
P.S. Dedico estes escritos ao Mestre, Colega e Amigo Dr.José Ronaldo Dias Campos e a todos que compartilham conosco este louco sonho possível.
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* Santareno, é advogado e economista. Reside no Rio de Janeiro, de onde escreve regulamente neste blog.